sábado, 28 de setembro de 2019

Erik Erikson e a Teoria Psicossocial do Desenvolvimento Humano

Erik Homburger Erikson nasceu em Frankfurt, Alemanha, em 1902 (vindo a falecer em 1994). Foi trabalhar em uma escola para pacientes submetidos à psicanálise, contatando o grupo de Anna Freud. Em 1933,  mudou-se para os Estados Unidos, tornou-se o primeiro psicanalista infantil americano.

Embora Erikson não negasse a teoria freudiana sobre desenvolvimento psicossexual, mudou seu enfoque desta, para o problema da identidade e das crises do ego, ancorado em um contexto sociocultural.  

Com sua teoria, Anna Freud também transformou os estágios psicossexuais de seu pai em estágios de busca de domínio do ego, dando a base para os estudos de Erik Erikson. Esta fase na Psicanálise ficou conhecida como época da “Psicologia do Ego”, onde se diminuía a ênfase no inconsciente (Hall, et. al., 2000). 

Em meados do século XX, Erikson começa a construir sua teoria psicossocial do desenvolvimento humano, repensando vários conceitos de Freud, sempre considerando o ser humano como um ser social, antes de tudo, um ser que vive em grupo e sofre a pressão e a influência deste

Contribuições importantes à Psicanálise, segundo a teoria de Erikson:
  • deixa uma teoria na qual o ego tem uma concepção ampliada e realiza estudos psicohistóricos.
  • Distribuiu o desenvolvimento humano em fases (Estágios psicossociais)cujos nomes designam um determinado conflito da fase.
  • Desviou-se do foco fundamental da sexualidade para as relações sociais.
  • Observou que, o que construímos na infância em termos de personalidade não é totalmente fixo e pode ser parcialmente modificado por experiências posteriores.
  • Em cada fase, o indivíduo cresce a partir das exigências internas de seu ego, mas também das exigências do meio em que vive, sendo portanto essencial a análise da cultura e da sociedade em que vive o sujeito em questão.
  • Em cada estágio o ego passa por uma crise (que dá nome ao estágio). Esta crise pode ter um desfecho positivo (ritualização) ou negativo (ritualismo). Da solução positiva, da crise, surge um ego mais rico e forteda solução negativa temos um ego mais fragilizado
  • A cada crise, a personalidade vai se reestruturando e se reformulando de acordo com as experiências vividas, enquanto o ego vai se adaptando a seus sucessos e fracassos.
  • Ao sair das crises do ego ou estágios, o sujeito sairia com um ego (no sentido freudiano) mais fortalecido ou mais frágil, de acordo com sua vivência do conflito, e este final de crise influenciaria diretamente o próximo estágio, de forma que o crescimento e o desenvolvimento do indivíduo estaria completamente imbricado no seu contexto social, palco destas crises. 
AS CRISES DO EGO:

1. Confiança Básica x Desconfiança Básica 

É a infância inicial (estágio oral freudiano).A atenção do bebê se volta à pessoa que provê seu conforto, que satisfaz suas ansiedades e necessidades em um espaço do tempo suportável: a mãe. A mãe lhe dá garantias de que não está abandonado à própria sorte no mundo. Assim se estabelece a primeira relação social do bebê.

E justamente sentindo falta da mãe que a criança começa a lidar com algo que Erikson chama de força básica (cada fase tem a sua força característica). Nesta, a força que nasce é a esperança. Quando o bebê se dá conta de que sua mãe não está ali, ou está demorando a voltar, cria-se a esperança de sua volta. E quando a mãe volta, ele compreende que é possível querer e esperar, porque isso vai se realizar; ele começa a entender que objetos ou pessoas existem, embora esteja fora – temporariamente – de seu campo de visão. 

Quando o bebê vivencia positivamente estas descobertas, e quando a mãe confirma suas expectativas e esperanças, surge a confiança básicaou seja, a criança tem a sensação de que o mundo é bom, que as coisas podem ser reais e confiáveis. Do contrário, surge a desconfiança básica, o sentimento de que mundo não corresponde, que é mau ingrato. A partir daí, já podemos perceber alguns traços da personalidade se formando, ainda que em tão tenra idade (Erikson, 1987 e 1976). 

É importante que a criança conviva com pequenas frustrações, pois é daí que ela vai aprender a definir quais esperanças são possíveis de serem realizadas, dando a noção do que Erikson chamou de ordem cósmica, ou seja, as regras que regem o mundo. Nesta fase também o bebê tem a ideia de sua mãe como um ser supremo, numinoso, iluminado. Nesta mesma época, começam as identificações com a mãe, que é por enquanto, a única referência social que a criança tem. 

Se esta identificação for positiva, se a mãe corresponder, ele vai criar o seu primeiro e bom conceito de si e do mundo (representado pela mãe). Se a identificação for negativa, temos o idolismo, ou seja, o culto a um herói, onde o bebê acha que nunca vai chegar ao nível de sua mãe, que ela é demasiadamente capaz e boa, e que ele não se identifica assim. Inicialmente, a criança vai se tornar agressiva e desconfiada; mais tarde, elas vão se tornar menos competentes, menos entusiasmadas, menos persistentes. 

importância da confiança básica é devida, segundo Erikson, ao fato de implicar a ideia de que a criança “não só aprendeu a confiar na uniformidade e na continuidade dos provedores externos, mas também em si próprio e na capacidade dos próprios órgãos para fazer frente ao seus impulsos e anseios” (1987, p.102). 

2. Autonomia x Vergonha e Dúvida 

Estágio anal freudiano, a criança já tem algum controle de seus movimentos musculares, então direciona sua energia às experiências ligadas à atividade exploratória e à conquista da autonomia. Porém, 
logo a criança começa a compreender que não pode usar sua energia exploratória à vontade, que tem que respeitar certas regras sociais e incorporá-las ao seu ser, fazendo assim uma equação entre manutenção muscular, conservação e controle (Erikson, 1976). 

A aceitação deste controle social pela criança implica no aprendizado – ou no início deste – do que se espera dela, quais são seus privilégios, obrigações e limitações. Deste aprendizado surge também a capacidade e as atitudes judiciosas, ou seja, surge o poder de julgamento a criança, já que ela está aprendendo as regras. 

 A questão é que os adultos, para fazerem as crianças aprenderem tais regras – como a de ir ao banheiro, tão enfatizada por Freud – fazem uso da vergonha e ao mesmo tempo do encorajamento para dar o nível certo de autonomia. 

Expor a criança à vergonha constante, o adulto pode estimular o descaramento e a dissimulação, como formas reativas de defesa, ou o sentimento permanente de vergonha e dúvida de suas capacidades e potencialidades. 

 Na aprendizagem do controle, seja do autocontrole o do controle social, temos o nascimento da força básica da vontade, que, manifestada na livre escolha, é o precedente essencial para o crescimento sadio da autonomia. Essa vontade se manifesta em várias situações práticas, como a manipulação de objetos, a verbalização eu se inicia, a locomoção que avança em suas capacidades, tudo o que possibilite uma atividade exploratória mais autônoma e independente.

Neste estágio, o principal cuidado que os pais tem que tomar é dar o grau certo de autonomia à criança. Se é exigida demais, ela verá que não consegue dar conta e sua autoestima vai baixar. Se ela é pouco exigida, ela tem a sensação de abandono e de dúvida de suas capacidades. Se a criança é amparada ou protegida demais, ela vai se tornar frágil, insegura e envergonhada. Se ela for pouco amparada, ela se sentirá exigida além de suas capacidades. 

Vemos portanto que os pais tem que dar à criança a sensação de autonomia e, ao mesmo tempo, estar sempre por perto, prontos a auxilia-la nos momentos em que a tarefa estiver além de suas capacidades. Se a criança se sentir envergonhada demais por não conseguir dar conta de determinada coisa ou se os pais reprimem demais sua autonomia, ela vai entender que todo o problema dela, toda a dúvida e a vergonha vieram de seus pais, adultos, objetos externos.Com isso, começará a ficar tensa na presença deles e de outros adultos, e poderá achar que somente pode se expressar longe deles. 

3. Iniciativa x Culpa 

Fase fálica freudiana, a criança já conseguiu a confiança, e a autonomia, com a expansão motora e o controle. Agora, cabe associar á autonomia e à confiança, a iniciativa, pela expansão intelectual. A combinação confiança-autonomia dá à criança um sentimento de determinação, alavanca para a iniciativa. 

Com a alfabetização e a ampliação de seu círculo de contatos, a criança adquire o crescimento intelectual necessário para apurar sua capacidade de planejamento e realização(Erikson, 1987, p.116).



 Quando ela já se sente capaz de planejar e realizar, ou seja, ela tem um propósito, ela tende a duas atitudes: numa delas, a criança pode ficar fixada pela busca de determinadas metas. Freud descreveu uma destas fixações a qual chamou de Complexo de Édipo, onde a criança nutre expectativas genitais com o pai do sexo oposto

Quando a criança se empolga na busca de objetivos além de suas possibilidades, ela se sente culpada, pois não consegue realizar o que desejou ou sabe que o que desejou não é aceitável socialmente, e precisa de alguma forma conter e reinvestir a carga de energia que mobilizou. Então, ela fantasia (muitas vezes magicamente) para fugir da tensão. Geralmente tais objetivos se dão no plano sexual e na vida adulta o não resolvimento da falta de iniciativa pode causar patologias sexuais (repressão, impotência) ou pode ser ainda expressos pela somatização do conflito (doenças psicossomáticas). O despertar de um sentimento de culpa, na mente da criança, poderá ficar atrelado à sensação de fracasso, o que gera uma ansiedade em torno de atitudes futuras (Erikson, 1987, p. 119). 

 Nesta fase, as crianças querem que os adultos lhes deem responsabilidades, como arrumar a casa, varrer o quintal ou ajudar a consertar algo. É muito importante que os adultos lhes mostrem também que há certas coisas que ainda não podem fazer, embora possam permitir ajudas em algumas atividades. Quando a criança se dá conta de que realmente existem coisas que estão fora de suas capacidades (ainda), ela se contenta, não em fantasiar, mas sim em realizar uma espécie de “treino”, o que, na verdade, se constitui num teste de personalidade que a criança aplica em si. Para isso, ela utiliza jogos, testando sua capacidade mental, dramatizações, testando várias personalidades nela mesma, e brinquedos, que proporcionam uma realidade intermediária. Tudo isso é o que faz a conexão sadia do mundo interno e externo da criança nesta fase. 

 Erikson alerta ainda para o perigo da personificação. Quando a criança, tentando escapar da frustração de ser incapaz para algumas coisas, exagera na fantasia de ter outras personalidades, de ser totalmente diferente do que é várias vezes, ela pode se tornar compulsiva por esconder seu verdadeiro “eu”; nesse caso, pode passar a sua vida desempenhando “papéis”,e afastar-se cada vez mais do contato consigo mesmo. 

4. Diligência x Inferioridade 

Erikson deu um destaque a esta fase que, contraditoriamente, foi a menos explorada por Freud, no esquema freudiano, corresponde à fase de Latência, por julgá-la um período de adormecimento sexualPeríodo é marcado, para Erikson, pelo controle, mas um controle diferente do que já discutimos. Aqui, trata-se do controle da atividade, tanto física como intelectual, no sentido de equilibrá-la às regras do método de aprendizado formal, já que o principal contato social se dá na escola ou em outro meio de convívio mais amplo do que o familiar. 

 Com a educação formal, além do desempenho das funções intelectuais, a criança aprende o que é valorizado no mundo adulto, e tenta se adaptar a ele. Da ideia de propósito, ela passa à ideia de perseverança, ou seja, a criança aprende a valorizar e, até mesmo, reconhece que podem existir recompensas a longo prazo de suas atitudes atuais, fazendo surgir, portanto, um interesse pelo futuro. Nesta fase, começam os interesses por instrumentos de trabalho, pois trabalho remete à questão da competência. 


A criança nesta idade sente que adquiriu competência ao dedicar-se e concluir uma tarefa, e sente que adquiriu habilidade se tal tarefa foi realizada satisfatoriamente. Este prazer de realização é o que dá forças para o ego não regredir nem se sentir inferior. Se falhas seguidas ocorrerem, seja por falta de ajuda ou por excesso de exigência, o ego pode se sentir levemente inferior e regredir, retornando às fantasias da fase anterior ou simplesmente entrando em inércia. Além disso, a criança agora precisa de uma forma ideal, ou seja, regulada e metódica, para canalizar sua energia psíquica. Ela encontra esta forma no trabalho/estudo, que lhe dá a sensação de conquista e de ordem, preparando-o para o futuro, que, aos poucos, passa a ser uma das preocupações da criança. É nesta fase que ela começa a dizer, com segurança aparente, o que “quer ser quando crescer”, como uma iniciação no campo das responsabilidades e dos planejamentos. A ordem e as formas técnicas passam a ser importantes para as crianças desta fase. 

Mas Erikson alerta para o formalismo, ou seja, a repetição obsessiva de formalidades sem sentido algum para determinadas ocasiões, o que empobrece a personalidade e prejudica as relações sociais da criança. 

 5. Identidade x Confusão de Identidade

Fase onde ele desenvolveu mais trabalhos, tendo dedicado um livro inteiro à questão da chamada crise de identidade. Em seus estudos, Erikson ressalta que o adolescente precisa de segurança frente a todas as transformações – físicas e psicológicas – do período. Essa segurança ele encontra na forma de sua identidade, que foi construída por seu ego em todos os estágios anteriores. 

 Esse sentimento de identidade se expressa nas seguintes questões, presentes para o adolescente: sou diferente dos meus pais? O que sou? O que quero ser?. Respondendo a essas questões, o adolescente pretende se encaixar em algum papel na sociedade. Daí vem a questão da escolha vocacional, dos grupos que frequenta, de suas metas para o futuro, da escolha do par, etc. Existe aí também o surgimento do envolvimento ideológico, que é o que comanda a formação de grupos na adolescência, segundo Erikson. O ser humano precisa sentir que determinado grupo apóia suas idéias e sua identidade. Mas se o adolescente desenvolver uma forte identificação com determinado grupo, surge o fanatismo, e ele passa a não mais defender suas idéias com seus argumentos, mas defende cegamente algo que se apossou de suas idéias próprias. Erikson discute a integração de adolescentes em grupos nazistas e fascistas, por exemplo, em Erikson (1987). 

Toda a preocupação do adolescente em encontrar um papel social provoca uma confusão de identidade, afinal, a preocupação com a opinião alheia faz com que o adolescente modifique o tempo todo suas atitudes, remodelando sua personalidade muitas vezes em um período muito curto, seguindo o mesmo ritmo das transformações físicas que acontecem com ele.

 Erikson lembra que o se humano mantém suas defesas para sobreviver. Ao sinal de qualquer problema, uma delas pode ser ativada. Nesta confusão de identidade, o adolescente pode se sentir vazio, isolado, ansioso, sentindo-se também, muitas vezes, incapaz de se encaixar no mundo adulto, o que pode muitas vezes levar a uma regressão. Também pode acontecer de o jovem projetar suas tendências em outras pessoas, por ele mesmo não suportar sua identidade. Aliás, este é um dos mecanismos apontados por Erikson como base para a formação de preconceitos e discriminações

 Porém, a confusão de identidade pode ter um bom desfecho: em meio á crise, quanto melhor o adolescente tiver resolvido suas crises anteriores, mais possibilidades terá de alcançar aqui a estabilização da identidadeQuando esta identidade estiver firme, ele será capaz de ser estável com os outros, conquistando, segundo Erikson, a lealdade e a fidelidade consigo mesmo, com seus propósitos, conquistando o senso de identidade contínua. 

6. Intimidade x Isolamento 

Ao estabelecer uma identidade definitiva e bem fortalecida, o indivíduo estará pronto para uni-la à identidade de outra pessoa, sem se sentir ameaçado. Esta união caracteriza esta fase. Existe agora a possibilidade de associação com intimidade, parceira e colaboração. Podemos agora falar na associação de um ego ao outro.

Para que essa associação seja positiva, é preciso que a pessoa tenha construído, ao longo dos ciclos anteriores, um ego forte e autônomo o suficiente para aceitar o convívio com outro ego sem se sentir anulado ou ameaçado. Quando isso não acontece, ou seja, o ego não é suficientemente seguro, a pessoa irá preferir o isolamento à união, pois terá medo de compromissos, numa atitude de “preservar” seu ego frágil. Quando esse isolamento ocorre por um período curto, não é negativo, pois todos precisam de um tempo de isolamento para amadurecer o ego um pouco mais ou então para certificar-se de que ele busca realmente uma associação. Porém, quando a pessoa se recusa por um longo tempo a assumir qualquer tipo de compromisso, pode-se dizer que é um desfecho negativo para sua crise. 

 Um risco apontado por Erikson para esta fase é o elitismo, ou seja, quando há formação de grupos exclusivos que são uma forma de narcisismo comunal. Um ego estável é minimamente flexível e consegue se relacionar com um conjunto variável de personalidades diferentes. Quando se forma um grupo fechado, onde se limita muito o tipo de ego com o qual se relaciona, poderemos falar em elitismo. 

7.Generatividade x Estagnação 

Nesta fase, o indivíduo tem a preocupação com tudo o que pode ser gerado, desde filhos até idéias e produtos. Ele se dedica à geração e ao cuidado com o que gerou, o que é muito visível na transmissão dos valores sociais de pai para filho. Esta é a fase em que o ser humano sente que sua personalidade foi enriquecida – e não modificada – com tais ensinamentos. Isso acontece porque existe uma necessidade inerente ao homem de transmitir, de ensinar. É uma forma de fazer-se sobreviver, de fazer valer todo o esforço de sua vida, de saber que tem um pouco de si nos outros. Isso impede a absorção do ser em si mesmo e também a transmissão de uma cultura. 

 Caso esta transmissão não ocorra, o indivíduo se dá conta de que tudo o que fez e tudo o que construiu não valei a pena, não teve um porquê, já que não existe como dar prosseguimento, seja em forma de um filho, um sócio, uma empresa ou uma pesquisa. 

Nesta fase também a pessoa tem um cuidado com a tradição e, por ser “mais velho”, pensa que tem alguma autoridade sobre os mais novos. Quando o indivíduo começa a pensar que pode se utilizar em excesso de sua autoridade, em nome do cuidado, surge o autoritarismo. Cada vez mais esta fase tem se ampliado. Até algumas décadas atrás, a forma de viver esta fase era casando e criando filhos, principalmente para a mulher. Hoje, com uma gama maior de escolhas a serem feitas, as formas de expressar a generatividade também se ampliam, de forma que as principais aquisições desta fase, como dar e receber, criar e manter, podem ser vividas em diversos planos relacionais, não somente na família. Segundo os autores, são diversas formas de não se cair no marasmo da lamentação, que Erikson chama de estagnação. 

8. Integridade x desespero 

Agora é tempo do ser humano refletir, rever sua vida, o que fez, o que deixou de fazer. Pensa principalmente em termos de ordem e significado de suas realizações. Essa retrospectiva pode ser vivenciada de diferentes formas. 

A pessoa pode simplesmente entrar em desespero ao ver a morte se aproximando. Surge um sentimento de que o tempo acabou, que agora resta o fim de tudo, que nada mais pode fazer pela sociedade, pela família, por nada. São aquelas pessoas que vivem em eterna nostalgia e tristeza por sua velhice. 

A vivência também pode ser positiva. A pessoa sente a sensação de dever cumprido, experimenta o sentimento de dignidade e integridade, e divide sua experiência e sabedoria. Existe ainda o perigo do indivíduo se julgar o mais sábio, e impor suas opiniões em nome de sua idade e experiência. 

 Erikson fala de duas principais possibilidades: procurar novas formas de estruturar o tempo e utilizar sua experiência de vida em prol de viver bem os últimos anos ou estagnar diante “do terrível fim”, quando desaparecem pouco a pouco todas as fontes de carícia se vão e o desespero toma conta da pessoa. Erikson (1987), faz uma ressalva acerca das crises e de suas conseqüências na construção da personalidade. Em suas palavras, “uma personalidade saudável domina ativamente seu meio, demonstra possuir uma certa unidade de personalidade (...). De fato, podemos dizer que a infância se define pela ausência inicial desses critérios e de seu desenvolvimento gradual em passos complexos de crescente diferenciação. Como é, pois, que uma personalidade vital cresce ou, por assim dizer, advém das fases sucessivas da crescente capacidade de adaptação às necessidades da vida – com alguma sobras de entusiasmo vital?” (Erikson, 1987, p. 91) 

Teoria do Plano de Vida

Segundo Erikson, durante o ciclo vital construiríamos o que ele denomina plano de vida, um curso, um roteiro segundo o qual as crises do ego vão se desenrolar de certa maneira, que parece ter sido determinada pela infância, pelas primeiras crises do sujeito. 

Alguns marcos de passagem e montagem do plano de vida de Erikson:
  •  A construção da confiança básica,
  • A iniciativa, onde ficam arraigados os ideais e os propósitos, importante elemento da formação da identidade.
  •  A indispensável contribuição da fase da iniciativa para o desenvolvimento ulterior da identidade consiste com a realização plena da gama de capacidades do indivíduo. 
  • Pela escolarização,a criança se insere no mundo social e lida com os papéis que este envolve. 
  • A importância clara das relações sociais na montagem do plano de vida, porque, é através da aprendizagem de determinados papéis, que a criança vai antecipando e exercitando alguns características e habilidades para seus futuros papéis. 
  •  Na fase da adolescência,  a importância desta etapa é crucial porque nela são revivenciados todos os conflitos das fases anteriores, seus bons ou maus desfechos, e os sentimentos gerados ao longo da infância pelas chamadas crises do ego. Ao definirmos quem somos, pensamos juntamente o que faremos de nossa vida. Consolida-se o plano de vida. 
  • A fase da generatividade onde “a própria natureza da generatividade sugere que a sua patologia, minimamente circunscrita, deve ser agora procurada na geração seguinte”. Esta é a força propulsora da passagem da cultura humana,
  • Inovação em que ele  fala da importância de se considerar o contexto histórico e cultural, utilizando estas informações como instrumento de análise, afinal, são elas que vão nos dar indicativos da formação de uma identidade. 

REFERÊNCIAS
Artigo sobre "Erikson e a Teoria Psicossocial do Desenvolvimento"  de Elaine Rabello, José Silveira Passos.
Google Imagens

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

ESTEREÓTIPOS, PRECONCEITOS, COGNIÇÃO SOCIAL E DISCRIMINAÇÃO.

ESTEREÓTIPOS

 

  • Os indivíduos vêm de uma maneira geral, o que é congruente com o estereótipo, e não vêm o que é incongruente.
  • Legitima certas ações em prol de outras e contribuem para justificar preconceitos e práticas discriminatórias ao atribuir a determinados grupos o estatuto de inferioridade.
  • A confirmação do esteriótipo, embora arbitrária leva ao processo de categorização, que é um fenômeno natural, já que quando pensamento,s pessoas, sentimentos são categorizados, são prontamente ativados. Categorizar implica em pensar a pessoa como membro de um grupo e não admitir sua individualidade, como uma auto-definição pertencente a uma categoria social. Necessidade de pertencimento a um determinado grupo, marcados por um rótulo tipo: axezeiros, mulher  de pagode,etc.
  • Ideia de que as pessoas de um mesmo grupo são mais homogêneas entre si, isso mostra que os esteriótipos embaçam a percepção e os julgamentos acerca de outras pessoas.

Walter Lippmann (1922/1961):

  • Estereótipos é uma matriz de pensamentos e sentenças com as características da homogeneidade , fixidez e super generalização.
  • Conceituou ESTEREÓTIPOS  como imagens mentais construídas a partir do sistema de valores do indivíduo, com a função de estruturar a complexidade do mundo real.
  • Investigou o poder dos rótulos e seus efeitos na percepção das pessoas.
  • Visão dos estereótipos como algo rígido, exagerado, má e super-simplificado.
  • Caráter fixo dos estereótipos: necessidade do indivíduo proteger a sua definição da realidade, como se fosse um ataque as fundações do seu universo.
  • Considerou os esteriótipos como produtos de um processo normal e inevitável, inerente ao modo como processamos a informação.
Tajfel (1982)

  •  destacou a dimensão social dos estereótipos ao concebê-los como crenças ou conhecimentos amplamente  partilhados por um grupo, gerando um processo de comparação entre nós e eles.
  • Identificou 3 funções nos estereótipos: 
  1. fornecer uma causalidade social para acontecimentos complexos e difíceis de explicar.
  2. É Justificativa, legitimar ações e tratamentos em relação a determinados grupos.
  3. A diferenciação intergrupal positiva, ou seja, necessidade de possuir uma melhor imagem social em relação ao grupo externo.
Myers (2000)
  • Esteriótipos são promovidos em grande parte pelos meios de comunicação de massa, ideologicamente, com o objetivo de diminuir a nossa capacidade de interpretar o mundo.
COGNIÇÃO SOCIAL
  • Operação mental, que esta na base do funcionamento social,envolvendo a capacidade humana de perceber a intenção e a disposição do outro em determinado contexto. Isso inclui habilidades nas áreas da percepção social, atribuição e empatia e reflete a influencia do contesto social.
  • Dá especial atenção às estruturas cognitivas, que são determinantes na produção do conhecimento social.  Nessa perspectiva surge o conceito de esquema.
  • ESQUEMA  é visto como subproduto do processo de categorização. É definido como uma "estrutura abstrata de conhecimento que especifica os fatores determinantes e os atributos de um dado conceito."(Pereira,2002,p110) quando aplicado em grupos sociais, são esquemas de grupo. Facilitam e orientam o processamento da informação sobre coletividades interferindo nos processos de atenção, interpretação e memória, bem como sobre os julgamentos dos membros dos grupos percebidos.
  • PROTÓTIPO é "uma representação de um grupo que se sustenta em um conjunto de associações entre um rótulo verbal intrínseco ao grupo e um conjunto de fatores que se presumem serem acertadamente aplicáveis àquele grupo." (Pereira, 2002, p110_)
  • PSICÓLOGOS SOCIAIS se interessam por esses processos porque as crenças a eles relacionadas podem ter influências negativas sore os indivíduos alvo dos esteriótipo e dos preconceitos. Os profissionais de psicologia se interessam pela estereotipização e os preconceitos  porque estes representam um pilar central de um objetivo maior da Psicologia como ciência: a compreensão do como e do porque as pessoas sentem e reagem a cada uma das outras.
  • A PSICOLOGIA SOCIAL se utiliza de palavras como "esquemas" e "categorizações", categorização um processo de subsunção (inclusão) em uma categoria, presente na formação dos estereótipos e ESQUEMAS são estruturas abstratas do conhecimento que facilitam e orientam o processamento de informação sobre a coletividade, interferindo na atenção, interpretação e memória.
  • O modelo comunitário de saúde se aproxima com a concepção que a psicologia social traz de valorizar as representações, cognições e atitudes dos sujeitos envolvidos na interação social e no processo de saúde.
  • Na perspectiva da Psicologia Social, as populações socialmente vulneráveis, quilombos, negros indígenas, etc, são constantemente atravessadas por exclusões sociais que formam maiorias psicológicas, sustentadas por ideologias de poder e desigualdade históricas e sociais.

Walter Lippmann (1922/1961):
  • Seu livro "Opinião Pública" esboça os primeiros estudos sobre Cognição Social, no qual reflete o modo como as pessoas constroem suas cognições em torno dos acontecimentos, suas influência internas e externas e suas representações da realidade social.
  • Define como o estudo de como as pessoas dão sentido a outras pessoas e a si mesmas, ou seja, como as pessoas individualmente percebem as outras.
Devine, Hamilton e Ostrom(1994)
  • a cognição social se caracteriza pelo estudo de todos os fatores que influenciam a aquisição, representação e recuperação de informações, e como isso influencia nos julgamentos das pessoas.
  • Analisa o processamento da informação social, ou seja, os processos de  aquisição, representação e recuperação de informações
DIFERENÇA ENTRE ESTEREÓTIPO E PRECONCEITO


  • Estereótipos são associações cognitivas relacionadas com a percepção de grupos.
  • Preconceito é conceituado como uma atitude, ou seja, predisposições para reagir negativamente ou positivamente a respeito de certos objetos, instituições, conceitos ou outras pessoas. Segundo Allport (1954) preconceito é um atitude negativa em relação a uma pessoa, baseada na crença de que ela tem as características negativas atribuídas a um grupo. Essa atitude  é composta por 2 componentes: um cognitivo, a generalização categorial,  e um disposicional, a hostilidade, que influenciaria componentes discriminatórios. Preconceito é uma combinação distinta de sentimentos inclinações para agir e convicções. Seus componentes essenciais são: afeto, tendências comportamentais, a cognição (convicções estereotipadas sobre grupos alvo do preconceito.). Uma antipatia direcionada aos grupos externos acompanhada por uma generalização indevida (Pettigrew,1998), e isso se dá por que os padrões valorativos desse grupo externo contradiz os valores do grupo no qual a pessoa esta inserida, caracterizando uma forma de relação intergrupal organizada em torno das relações de poder entre grupos.
  • Relação entre papeis sociais e as atitudes implicam em que a atitude, apesar de ser uma predisposição de cada sujeito, é formada através das interações deste sujeito nos seus diversos papeis sociais.
FORMAS DE PRECONCEITO


Há dois tipos de preconceitos, e ambos se baseiam no papel da percepção das diferenças culturais como deflagradora da discriminação. 
  • o clássico ou flagrante, caracterizado pela expressão de atitudes e comportamentos hostis em relação a um grupo-alvo. este integra duas dimensões: rejeição do grupo alvo e percepção de que este constitui uma ameaça, a rejeição de intimidade com membros do grupo alvo.
  • o novo ou sutil, apresenta-se de forma menos aberta e mais encoberta.
PRECONCEITO RACIAL E DE COR
  • é uma atitude desfavorável culturalmente condicionada em relação aos membros de uma população, aos quais se têm como ESTIGMATIZADOS, seja devido a aparência seja pela ascendência étnica. são formadores das castas.
DISCRIMINAÇÃO

  • Envolvem ameaças reais ou simbólicas aos privilégios dos membros, porque esses privilégios contrariam os privilégios do grupo no qual esta inserida a pessoa que discrimina.
  • É um comportamento manifesto, geralmente apresentado por uma pessoa preconceituosa, que se exprime através da adoção de padrões de preferência em relação aos membros do próprio grupo.
  • Pode se dar pela rejeição verbal, através de palavras de insultos, etc. Pode se dar também pela forma de evitação. formas mais graves implicam em verbalizações e julgamento explicito, changando a exclusão.
ETNOCENTRISMO


  • Uma modalidade de discriminação.
  • Uma visão de mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo. Todos os acontecimentos sociais e todos os outros grupos são pensados e sentidos através de nossos valores, modelos e definições do que é a existência. Como se fosse o único possível, decorrendo daí uma discriminação com expressa intolerância às diferenças culturais.





domingo, 22 de setembro de 2019

Envelhecimento x Erik Erikson / Henri Wallon

Processo de envelhecimento na transição adulto/idoso.

Implicações dos processos cognitivos na passagem adulto-idoso:

  • Os processos cognitivos envolvem a inteligência e habilidades de processamento, e algumas dessas habilidades, a velocidade de processamento mental e o raciocínio abstrato podem declinar com a idade, pois estes podem refletir uma degeneração neurológica. Entretanto, o declínio dessas funções não é inevitável e pode ser prevenido. O impacto das alterações cognitivas é influenciado pelas habilidades cognitivas anteriores, NSE (Nível Sócio-Econômico) e nível Educacional (PAPALIA,2013), portanto,  as habilidades cognitivas do idoso, vão ser influenciadas pelas habilidades cognitivas, não só de sua fase adulta, mas desde a infância e adolescência. Verifica-se uma diferença, sobretudo, na velocidade de processamento e no desempenho não-verbal na transição do adulto para o idoso.
  • Um estudo sobre Inteligência Adulta foram medidas as 6 principais habilidades mentais: significados verbais, fluência verbal,números (habilidade computacional) , orientação espacial, raciocínio indutivo e velocidade perceptual. A velocidade perceptual declinou mais cedo, as outras funções foram declinando mais lentamente, e em alguns não houve declínio. Alguns possuem perdas rápidas de suas capacidades cognitivas, outros mais lentamente e outro até desenvolvem novas capacidades. Portanto, o treinamento cognitivo pode promover a retenção ou crescimento das habilidades cognitivas na transição adulto-idoso. A deterioração cognitiva pode estar relacionada ao desuso. Aqueles que recorrem a treinamento, prática e ajuda social parecem poder utilizar as reservas mentais, sendo capazes de manter o expandir tais reservas. 
Na terceira idade,  há uma diminuição geral na atividade do sistema nervoso central o que contribui para perdas de eficiência do processamento de informações e alterações nas habilidades cognitivas. Exemplos:
  • A velocidade de processamento, depende da saúde, equilíbrio e jeito de andar, além de desempenhos das atividades no dia a dia.
  • habilidades que tendem a se tornar mais lentas: facilidade de deslocar a atenção de uma tarefa para outra, dificultando por exemplo, dirigir.
  • Resolvem problemas práticos com mais eficácia quando estes têm relevância emocional para eles.
O treinamento e feedback podem ampliar as capacidades cognitivas no processo de envelhecimento e as vitaminas  B12 e D têm efeito facilitador em processos cognitivos, tais como: memória, velocidade de processamento e velocidade sensório-motora.
  • memória de curto prazo e memória de trabalho possuem suas capacidades diminuídas gradualmente com a idade. A memória pode ser melhorada pronunciando as palavras em voz alta ou mover os lábios sem emitir som.
  • memória sensorial, semântica e de procedimento parecem tão eficientes nos adultos como nos idoso-memoria de longo prazo.
  • Fala e memória:  adultos mais velhos têm um desempenho melhor na parte verbal.

Perdas e ganhos da terceira idade nas relações sócio-afetivas:

As relações sócio-afetivas se constituem desde as fases anteriores do desenvolvimento humano. Quando o indivíduo consegue manter essas relações com equilíbrio emocional, empatia, respeito, há uma perspectiva que essas relações permaneçam na terceira idade da mesma forma. Da mesma forma, quando o sujeito tem suas relações sócio-afetivas marcadas por conflitos constantes, desafetos, queixas, quando idoso, espera-se também, que essas relações permaneçam da mesma forma.  Há ganhos nas relações afetivas, quando se considera a experiência de vida, sabedoria, capacidade de lidar com os problemas, opinião formada, sensação de missão cumprida, etc. As perdas sócio-afetivas podem ser notadas nas relações de convivência social e familiar, quando o idoso já não é mais tão solicitado, nem tão engajado socialmente e nas relações familiares. A dificuldade de lidar com a possibilidade da morte, deixa-o emocionalmente fragilizado.

Breve resumo do que envolve o seu desenvolvimento adulto-idoso, na Teoria de Erikson.

As 8 idades do homem. Ao longo da vida enfrentamos conflitos psíquicos específicos que ajudam no desenvolvimento de nossa personalidade. Erik Erikson descreveu o desenvolvimento em 8 estágios, e cada estágio dele, traz o nome desses conflitos.

1-    CONFIANÇA X DESCONFIANÇA  (0 ao 1 ano de idade)

bebê terá experiências que o levará a confiar ou não, em sua mãe, e outras pessoas.
É preciso desenvolver tanto a confiança como a desconfiança.

2-    AUTONOMIA X VERGONHA  (2 ao 3 anos)

   O conflito psíquico importante onde a criança desmama por conta da maturação biológica. Aprende a se locomover e a controlar os esfíncteres. Processo gradual e liberação em relação a figura materna que proporciona a criança um sentimento progressivo de independência e autonomia. Quer fazer tudo sozinha e explorar o ambiente ao máximo, podem desenvolver a autonomia.

3-    INICIATIVA X CULPA  (3 aos 6 anos)

     Desenvolve sua identidade como menino ou menina, segundo Erikson. Nesse período a menina ou menino se identificara com seu progenitor do mesmo sexo, copiando aspectos do seu comportamento. A menina exibirá sua feminilidade e o menino sua masculinidade.  O menino tende a antagonizar  com o pai e a menina com a mãe. 

4-    DOMÍNIO X INFERIORIDADE  (7 aos 12 anos)

    Desenvolver habilidade dentro da escola e fora dela. Ler, escrever, calcular, aprender jogo, realizar atividades físicas, colecionar objetos, enfim, toda energia e motivação se referem ao desenvolvimento de competências.    As novas aprendizagens e ação sobre o mundo desenvolve na criança o sentimento de domínio.  Quando elas não são encorajadas a tomar parte nas atividades por outras pessoas, ou é  rejeitada, desenvolve o sentimento de inferioridade.

5-    IDENTIDADE X CONFUSÃO DE PAPÉIS. (12 aos 18 anos)

  Busca entender a si mesmo. Primeira crise de identidade. Na adolescência, ele abandonará algumas dessas características e fortalecerá outras, e  incansavelmente, tentará achar a si mesmo.   Raramente se identificam com os pais, não aceitam  intromissão, rejeitam seus valores. É um esforço de separar sua identidade da de seus pais.  O  adolescente tem uma grande necessidade de pertencer a um grupo social, formado por pessoas de
    sua idade.  Ser parte de tal grupo, ajuda o adolescente a encontrar sua identidade no contexto social. Ao conseguir definir sua identidade desenvolve o sentimento de coerência interna, se sentido uma pessoa integrada e única. Nem sempre o adolescente consegue alcançar essa tarefa, sofrendo a  chamada difusão de identidade quando ele não consegue encontrar a si mesmo.

É a partir do sexto estágio do desenvolvimento que Erikson trata do adulto até o idoso:

6-    INTIMIDADE X ISOLAMENTO  (18 aos 30 anos)

     O jovem-adulto tem interesse em fundir sua identidade com a de outras pessoas. Quer dizer entregar-se em relações de intimidade, as quais será fiel, se entregando a compromissos e sacrifícios. Está pronto para assumir uma relação sexual e afetiva duradoura. Pertencer inteiramente a um grupo religioso a um movimento político. Manter uma amizade profunda e sincera. Ele está pronto para doar-se, para sair de si mesmo sem medo de perder a própria identidade. Caso não tenha atingido essa condição de integridade do eu, terá dificuldade de envolver-se genuína  profundamente com outras pessoas, fugindo da intimidade, convivendo com uma profunda  sensação de isolamento e distanciamento.

7-    GENERATIVIDADE X AUTOABSORÇÃO      ( 30 aos 60 anos)
 
      O adulto interessa-se por criar, cuidar e orientar uma nova geração. É a generatividade.
     Erikson percebe que as pessoas maduras apresentam uma grande necessidade em se  sentirem  responsável por crianças e jovens. Aos se sentirem necessários, sentem-se estimulados. Quando não  ocorre, há um sentimento de estagnação e infecundidade.
     A generatividade pode se realizar pela procriação, mas também, pode se manifestar por atividades  relacionadas ao cuidado e a orientação da infância.

“- Eu penso que nesse estágio, que a ética, a ética madura, se torna possível. Porque agora você aprende a se tornar responsável pelo que está criando. Agora, eu evito o termo “criatividade”. Generatividade significa gerar, produzir algo. Com isso, me refiro a tudo que é gerador. Filhos, produtos, ideias, obas de arte. Com isso uma pessoa pode se realizar, mesmo não tendo sido reconhecida (EX: Picasso) , mesmo não tendo filhos já que generatividade também é ser útil a filhos dos outros, como fazem os professores por exemplo. Ou quando alguém se preocupa em gerar ideias. Não o fazer pode gerar frustrações, isso Freud sempre enfatizou.

8-     INTEGRIDADE DO EGO X DESESPERANÇA   ( 60 anos de idade, em diante)

    O adulto que tiver resolvido de forma satisfatória todos os conflitos dos estágios anteriores e desenvolvido a capacidade da solidariedade humana, terá condições psíquicas para lidar com a crise final ligada a desintegração e a morte. Aqueles que não tenham desenvolvido suficientemente a integração do ego, experimentarão sentimentos de desespero e que não há mais tempo para retornar  experimentar diferentes possibilidades da vida. A integridade do ego leva ao sentimento de união  com a humanidade, a sabedoria e a esperança. A falta de integridade do ego leva a desesperança e ao temor da morte.

Contribuições de Henri Wallon para a transição adulto-idoso:

HENRI WALLON ( 1879-1962) – Francês. Médico, Filósofo e Psicólogo. Se dedicou ao estudo da criança por acreditar que esse é o caminho para se compreender a origem dos processos psicológicos humanos.

AFETIVIDADE E INTELIGÊNCIA – TEORIA PSICOGENÉTICA

Estudou o desenvolvimento infantil a partir das dimensões cognitivas, afetivas e motora. Estudou o desenvolvimento de forma integral, recusando-se a estudar as partes isoladamente. Entretanto, não se estendeu até a idade adulta e idosa. Porém , do ponto de vista de sua Teoria Psicogenética, é do conflito dessas duas condições que emergem o pensamento e a inteligência. Logo conflitos e contradições não são problemas, mas fazem parte do desenvolvimento psíquico normal da criança. As crises muitas vezes são dinamizadoras do processo desenvolvimental, e portanto, benéficas. Nessa perspectiva, os adultos aprendem a lidar com conflitos e contradições, que demandam da vida adulta, fortalecendo as estruturas cognitivas já existentes de fases anteriores.

Para Wallon o desenvolvimento não se dá de forma linear, por isso ele rompe com visões lineares e positivas ao construir um modelo de investigação e interpretação próprio. Pois, percebe que o desenvolvimento humano é marcado por avanços, recuos e contradições; não há uma sucessão de estágios, mas sim, desenvolvimentos que ocorrem de forma simultânea, nas diferentes fases da vida, inclusive na transição adulto-idoso.

Afetividade, motricidade e inteligência.

A inteligência se desenvolve após a afetividade, contrariando outras teorias, sendo assim, no adulto e idoso as relações de afetividade já estão bem definidas. Assim, como afirma Wallon, a inteligência surge de dentro da afetividade e estabelece com ela certa relação de conflito, talvez seja por isso que nos interessamos em aprender as coisas que mais gostamos do que as que não gosta.

Afetividade estamos falando das coisas que nos afetam (ao olhar do outro, objeto, elementos internos como fome e lembranças) trata-se de eventos internos ou externos. É no contexto dessa interação emocional e social que se dá o desenvolvimento cognitivo da criança, e que são fortalecidos nas fases posteriores da vida.

 Wallon destaca a importância das atividades, motoras nesse processo, pois o bebe também expressa suas emotividades por gestos, expressões faciais. O ato motor é uma atividade expressiva que comunica os atos emocionais do bebe e ao mesmo tempo gera estados emocionais nos adultos. Esse aspecto do envelhecimento, a motricidade, pode ser afetada por diversos fatores no processo de envelhecimento.

Defende que o processo de evolução depende tanto da capacidade biológica do sujeito, quanto do ambiente que o afeta de alguma forma. É o meio que vai permitir que essas potencialidades se desenvolvam. Nesse contexto, das capacidades biológicas e do meio em que vive, o adulto e o idoso poderão reduzir ou expandir suas habilidades cognitivas no processo de envelhecimento.

Dentre as principais características dos 6 estágios de desenvolvimento infantil de Wallon, estão que, em cada um dos estágios a criança interage com seu ambiente de formas específicas enquanto busca construir sua própria identidade. Na idade adulta e idoso, onde a identidade do sujeito se encontra bem definida, a fase adulta irá dar o suporte para o estágio seguinte da fase idosa, já que cada estágio representa um tipo de preparação para o estágio seguinte mas revela a descontinuidade.  O desenvolvimento alterna fases de introspecção, voltar-se para si mesmo, e outras, de extroversão, nas quais o individuo se volta para o meio externo, em busca de autonomia.

Conceitos Básicos da Teoria Boweniana -aula de 21/09/2019


Finalidade da Terapia Boweniana:

  • O trabalho terapêutico de família, trabalha o indivíduo para alcançar maior capacidade de pensar, sentir e agir por si só, autonomamente, deixando de estar suscetível ao desequilíbrio, frente às situações tensas.
Conceitos Básicos da Teoria Boweniana:

1. PROXIMIDADE 

Sentimento de pertença como força que coloca o indivíduo para dentro do sistema. Tudo que o indivíduo faz, tende a repetir o que a família faz. Ausência de individualidade, pouca consciência de si, alta ansiedade no sistema, pseudo-self, indiferenciação do self.


2. INDIVIDUALIDADE/INDIVIDUAÇÃO

Força contrária à proximidade, apresenta uma distância da família, da história geracional, colocando o indivíduo para fora do sistema. Presença de individualidade, maior consciência de si, baixa ansiedade nos sistema, eu-sólido, diferenciação do self.

Atenção: Todo processo terapêutico, tem por objetivo, equilibrar essas duas forças: proximidade e individualidade. E é justamente essa busca em tentar equilibrar essas duas forças que Bowen chamou de diferenciação do self.


3. ANSIEDADE
  • É baixa, quando a diferenciação é alta.
  • É alta, quando a diferenciação é baixa.

4. TRIANGULAÇÃO

  • Tem por finalidade reduzir a ansiedade, de forma momentânea, ou seja,  a triangulação se forma por três organismos do sistema para solucionar um conflito momentâneo, reduzindo a ansiedade do sistema, visando resolver o problema. Portanto, a triangulação é funcional.
5. TRIÂNGULO
  • Se forma para solucionar um conflito permanente, e nunca se desfaz no sistema. Portanto, o triângulo é disfuncional. Se forma quando não se consegue resolver um problema no sistema, se torna uma estrutura fixa, e o casal nunca resolve o problema. É quando a triangulação vira um triângulo.


Atenção: 
É através do GENOGRAMA, que torna possível visualizar o sistema familiar.






6. PROCESSO EMOCIONAL DA FAMÍLIA NUCLEAR
  • É do sistema e não do indivíduo em si.
  • Está relacionada à proximidade e individuação.
  • MAIOR PROXIMIDADE, maior ansiedade, as pessoas e grudam mais no sistema, indiferenciação. Exemplo: familiares moram perto, estão sempre juntos. Existe uma fusão de papéis, como se fossem uma família só. Um se mete na vida do outro e criam uma relação de dependência. Só tomam uma decisão se consultar antes, escutar alguém da família de origem. Simbiose, massa de ego indiferenciada e relação de co-dependência.
  • MAIOR INDIVIDUAÇÃO, menor ansiedade, ideia de que já não precisa mais da família de origem, que pode seguir seu caminho, e ter autonomia para fazer diferente.  Dissociação dos papéis, relação de independência em relação aos membros da família. Tem autonomia desenvolvida, eu-sólido, diferenciação do self.
  • ROMPIMENTO EMOCIONAL, ocorre quando os membros da família não conseguem perceber que existe esse elo com a família, mesmo rompendo com o sistema.  Para isso, é preciso REAPROXIMAR os organismos do sistema, para perceberem esse elo que não se desfaz nunca.
Atenção: O processo de construção da diferenciação do self é conseguir integrar as referências que as famílias de origem trazem para o núcleo familiar.


7) PROJEÇÃO FAMILIAR - TRANSMISSÃO MULTIGERACIONAL
  •  Ocorre quando uma geração não dá conta de resolver as tensões do sistema, e acabam projetando nas gerações seguintes essas tensões, podendo transmiti-las de geração em geração, daí a Transmissão Multigeracional.
Exemplo de um Genograma para análise de projeção e transmissão multigeracional.



Jenival, casado com Noca, tiveram um filho chamado Hercúlio.
Jenival possui alto grau de diferenciação, tem autonomia, e um eu-sólido bem desenvolvido.
Noca possui baixo grau de diferenciação, dependente emocionalmente, Pseudo-self, cobra atenção e companhia de Jenival. Como Jenival não atende às suas expectativas, Noca projeta em seu filho Hercúlio, a cobrança de lhe fazer companhia, já que o pai não faz. O filho, atende ao pedido da mãe, se formando aí uma triangulação entre eles. Se o problema fosse resolvido, com o pai passando a dar atenção à mãe, Hercúlio ficaria livre para seguir. Porém, Jenival não está disposto a mudar, e Noca continua a projetar em Hercúlio aquilo que lhe falta. Nesse caso a triangulação se torna um triângulo, já que se torna uma relação permanente entre eles no sistema.
Hercúlio aos 35 anos, casa-se Jonélio, assumindo sua relação homoafetiva. Hercúlio tem baixa diferenciação do self, dependência emocional, alta ansiedade, e Pseudo-self. Acredita que aquela relação que a mãe lhe ensinou é o ideal de relação que poderia construir. Do mesmo jeito que cuidou da mãe, achava que iria encontrar uma pessoa com os mesmos cuidados com ele. Porém, Jonélio tem alto grau de diferenciação do self e não lhe dá os cuidados que ele gostaria, assim como deu a sua mãe. Tentam resolver essa tensão no sistema, adotando uma criança recém-nascida. Entretanto, quando esta criança, chamada Hermínia, completa 10 anos de idade, Hercúlio começa a projetar nela as suas expectativas de cuidados. Porém, hermínia tem alto grau de diferenciação, e diz que não tem obrigação de cuidar do pai, e quem tem que lhe dar atenção é Jonélio, seu marido. Hermínia nega qualquer possibilidade do pai, porém, continua indiferenciada em relação à família.  Mesmo Hercúlio tendo atendido às possibilidades da mãe Noca, ele também continuou indiferenciado em relação à família. Ambos continuam indiferenciados porque na primeira projeção Noca continua com o problema em relação ao marido, nada foi resolvido, e na segunda projeção, Hercúlio também continua com o problema em relação ao marido Jonélio, pois as projeções tendem a não resolver a tensão do sistema. Ao envolver duas gerações (Multigeracional) por meio das projeções, na segunda projeção já ocorre a transmissão. Ambas são famílias disfuncionais, com baixa diferenciação. (História criada em sala por Profa. Patrícia Caldeira)

FAMÍLIA DISFUNCIONAL - BAIXA DEFERENCIAÇÃO