1.
SURGIMENTO
DA PSCOLOGIA HUMANISTA
A Psicologia
Humanista surgiu na década de 50 e ganhou força nos anos
60 e 70, como uma reação às ideias de análise apenas do comportamento, como
psicologia mecanicista defendida pelo Behaviorismo e do enfoque no inconsciente e seu determinismo,
defendido pela Psicanálise, através da negatividade
freudiana.
Os
psicólogos humanistas se unem por um objetivo comum: humanizar a psicologia. Isto é, fazer da Psicologia o estudo daquilo
“que significa estar vivo como ser humano”. Estes, voltaram sua atenção para o modo como
as pessoas, supostamente “saudáveis” se esforçam para obter autodeterminação e
autorrealização.
A grande divergência com o Behaviorismo é que
o Humanismo não aceita a ideia do ser humano como máquina ou animal, sujeitos
aos processos de condicionamento. Já em relação à Psicanálise, a reação foi à
ênfase dada no inconsciente, nas questões biológicas e eventos passados, nas
neuroses, psicoses e na divisão do seu humano em compartimentos. A
perspectiva humanista encara a personalidade com um foco no potencial para o
crescimento pessoal saudável.
De forte influência existencial
e fenomenológica, a Psicologia Humanista busca conhecer o ser humano,
estudando as pessoas por meio de suas experiências e sentimentos por elas
mesmo, relatados, tentando humanizar seu aparelho psíquico, contrariando
assim, a visão do homem como um ser condicionado pelo mundo externo. No
existencialismo, o ser humano é visto como ponto de partida dos processos de
reflexão e na fenomenologia, esse ser humano tem consciência do mundo que o
cerca, dos fenômenos e da sua experiência consciente.
A maior contribuição dessa nova
linha psicológica é a da experiência consciente, a crença na integralidade
entre a natureza e a conduta do ser humano, no livre arbítrio, espontaneidade e
poder criativo do indivíduo.
A realidade, para a Psicologia
Humanista, deve ser exposta à temporalidade, deve ser fluída e não estática,
permitindo que ao indivíduo a perspectiva de sua totalidade, desmistificando a
ideia de uma realidade pura, confrontando-a com outras realidades. A integração
entre o indivíduo e o mundo, permite que ele sinta a realidade presente,
libertando-se das exigências do passado e do futuro.
As raízes da psicologia humanista
estão na corrente filosófica do existencialismo europeu, com autores tais como:
Jean Paul-Sartre: “O homem nasce
livre, responsável e sem desculpas”.
Jean Jacques Rousseau: “O homem é
bom por natureza, é a sociedade que o corrompe”.
Erich Fromm: “Se eu sou o que
tenho e perco que tenho, quem sou eu, então?”
Viktor Frankl: “O homem se realiza
na mesma medida em que se compromete com o significado da sua medida”.
2. TEÓRICOS HUMANISTAS
Os
dois grandes teóricos da Psicologia Humanista foram Abraham Maslow e Carl
Rogers, e ambos propuseram uma perspectiva de uma terceira força com ênfase no
potencial humano.
2.1. ABRAHAM MASLOW
Um dos principais teóricos da
Psicologia Humanista foi Abraham
Maslow (1908-1970), americano, considerado o pai espiritual do
movimento humanista, acreditava na tendência individual da pessoa para se
tornar auto realizadora, sendo este o nível mais alto da existência humana.
Maslow criou uma escala de necessidades a serem satisfeitas e, a cada
conquista, nova necessidade se apresentava. Isso faria com que o indivíduo
fosse buscando sua autorrealização, pelas sucessivas necessidades satisfeitas,
conforme gráfico abaixo:
Dentro dessa perspectiva,
Maslow mostra que, se nossas necessidades fisiológicas são atendidas, ficamos
preocupados com segurança pessoal; se atingimos um senso de segurança, buscamos
amar, ser amado e amarmos a nós mesmos; quando amamos, buscamos a autoestima;
com autoestima buscamos a autorrealização,
que seria o processo de realizar nosso potencial; e, por fim, buscamos a
autotranscedência, que significa propósito e comunhão para além do eu.
Maslow desenvolveu suas ideias
a partir do estudo de pessoas saudáveis e criativas, ao invés de estudas casos
clínicos complicados. Para definir a autorrealização estudou pessoas
aparentemente com uma vida de sucesso, por terem uma vida rica e produtiva.
Observou que essas pessoas tinham características em comum, tais como:
aceitavam-se tal como eram; tinham consciência de si; eram francas e
espontâneas, afetuosas e solícitas e não se deixavam afetar pela opinião
alheia. Seguras por saberem quem eram, seus interesses eram centrados nos
problemas, e não em si mesmas. Direcionavam suas energias em determinadas
tarefas, tidas como missão de vida. A maioria tinha poucos relacionamentos
íntimos ao invés de muitos relacionamentos superficiais. Maslow retrata que
muitas foram movidas por grandes experiências pessoais ou espirituais que vão
além da consciência comum.
Para Maslow essas
características eram consideradas qualidades adultas maduras, qualidades de
pessoas que aprenderam o suficiente sobre a vida, para serem compassivas, terem
superado sentimentos confusos em relação aos seus pais, descobriram sua
vocação, por terem coragem de serem impopulares, e não se envergonharam de
serem abertamente virtuosas.
A partir de experiências com
estudantes universitários, Maslow concluiu que aqueles propensos a se tornarem
adultos autorrealizados eram simpáticos, solícitos, “particularmente afetuosos
com os mais idosos, que merecem seu afeto”, e “preocupados com a crueldade, a
malvadeza e o espírito de gangue encontrados com tanta frequência entre as
pessoas jovens”.
2.2. CARL ROGERS
Outro grande teórico da Psicologia
Humanista foi Carl
Rogers (1902-1987), americano, que baseou seu trabalho no
indivíduo. Ele estava de acordo com muitos dos pensamentos de Maslow.
Acreditava que as pessoas são basicamente boas e dotadas de tendências para a
autorrealização. A não ser que esta, esteja em um ambiente, que iniba o seu
crescimento. Rogers dizia que cada um de nós é como um broto pequenino, pronto
para o crescimento e para a realização.
Rogers acreditava que um clima
favorável ao crescimento exigia três condições:
Autenticidade: as pessoas nutrem o crescimento com autenticidade,
sendo francas em seus sentimentos, retirando as máscaras, e sendo transparentes
e reveladoras.
Aceitação: ele chamou de aceitação positiva incondicional,
atitude de benevolência, de autovalorização, mesmo reconhecendo em si,
defeitos. Funciona como um alívio profundo deixar os disfarces caírem,
confessar nossos piores sentimentos e descobrir que ainda somos aceitos, o que
nos possibilita viver em uma relação matrimonial, em família unida e amizade
íntima, sem a necessidade de se explicar a todo instante. É ser livre para ser
espontâneo sem correr o risco de perder a estima pelo outro.
Empatia: ao compartilhar e espelhar nossos sentimentos e
refletir nossos significados. ”Raramente ouvimos com compreensão sincera e
verdadeira empatia”, segundo Rogers. Porém, ele considera ouvir, nessa condição
especial, uma das forças mais potentes para a mudança.
Para Rogers, autenticidade,
aceitação e empatia são os efetivos meios que possibilitam as pessoas crescerem
como vigorosos carvalhos, pois “na medida em que são aceitas e valorizadas, as
pessoas tendem a desenvolver uma atitude mais favorável em relação a si mesmas”
(Rogers, 1980, p.116)
Ele trabalhou com um conceito
semelhante ao de Maslow, que é a tendência inata de cada pessoa tem de
atualizar suas capacidades e potenciais.
Defendeu, também, a ideia de
autoconceito como característica principal da personalidade, bem como, um
padrão organizado e consciente das características de cada um, desde a infância
que, à medida que novas experiências surgem, esses conceitos podem ser
substituídos ou reforçados. Para ele, a capacidade do indivíduo de modificar
consciente e racionalmente seus pensamentos e comportamentos, fornece a base
para a formação de sua personalidade
O autoconceito diz respeito à
resposta que a pessoa tem de si para a seguinte pergunta: “Quem sou eu? Para
Carl Rogers, se o autoconceito for positivo, a pessoa tende a agir e a ver o
mundo positivamente. Em contrapartida, se o autoconceito for negativo, a pessoa
se sente infeliz e insatisfeita. Para Rogers, o objetivo mais valioso para
terapeutas, professores, pais e amigos, é ajudar os outros a se conhecer, a se
aceitar, e a ser verdadeiro consigo mesmo.
Para Rogers, os indivíduos
bem ajustados psicologicamente têm autoconceitos realistas e a angústia
psicológica é advinda da desarmonia entre o autoconceito real (o que se é de
fato – self real) e o ideal para si
(o que se deseja ser – self ideal).
Dentro dessa perspectiva de self real e self ideal, para Rogers, quando ambos
são muito parecidos, o outoconceito é positivo.
Ele acreditava que o
sujeito deveria dar a direção e o conteúdo do tratamento psicológico, por ter
ele suficientes recursos de autoentendimento para mudar seus conceitos. A
terapia centrada na pessoa e não em teorias, nasceu dessa ideia.
3.
PRESSUPOSTOS
TEÓRICOS
Do ponto de vista da
psicologia humanista, pode-se falar de dois grandes pressupostos teóricos que
embasam as diversas abordagens: o pressuposto determinista e o pressuposto da
autonomia.
3.1.
PRESSUPOSTO
DETERMINISTA
No pressuposto determinista, o ser humano é pensado como algum tipo de
mecanismo. Tudo que ele faz, assim como tudo que lhe acontece, tem uma causa
determinante. A arte do atendimento consiste em descobrir essa causa e intervir
no sentido de modificá-la ou substituí-la por outra.
As causas determinantes das condutas humanas podem ser internas (além de
uma energia interna, compreendem-se as cognições, representações sociais,
motivações inconscientes, resíduos da história passada, por exemplo, que dão a
essa energia sua direção); ou externas (estímulos do ambiente físico ou social,
isoladamente ou em configurações complexas, que acionam e dão direção a uma
fonte de movimento) (Baum, 1999).
Dentro deste pressuposto do determinismo psicológico, o atendimento,
para que seja eficaz, exige um olhar analítico da situação. Este olhar
configura-se como um diagnóstico. A partir dele, uma estratégia de intervenção
é montada para dirigir a ação terapêutica para os fins visados: uma troca de
causas determinantes.
3.2.
PESSUPOSTO
DA AUTONOMIA
O pressuposto humanista da autonomia é diferente. Nele o ser humano não
é visto como simples resultado de múltiplas influências, mas como o iniciador
de coisas novas.
A pessoa não é vista principalmente como efeito de causas anteriores
modificáveis, mas como um ser desafiado pela vida e chamado a responder
criativamente (Merleau-Ponty, 1996; Frankl, 1989). Isso quer dizer que se supõe
que o ser humano tenha algum poder sobre as determinações que o afetam.
O trabalho psicológico consiste fundamentalmente em oferecer um contexto
dialógico no qual a liberação desse poder seja promovida. Aposta-se na
autonomia crescente da pessoa e na fecundidade de uma relação humana honesta
para promover essa autonomia. A autonomia é entendida como a capacidade que o
ser humano tem de orientar sua própria vida de forma positiva para si mesmo e
para a coletividade. Nessa perspectiva, o atendimento não se baseia em um
diagnóstico, mas na afirmação de uma tendência inata e criativa ao crescimento,
e não é concebido como uma intervenção direcionada a efeitos específicos, mas
sim como uma relação libertadora dessa tendência na pessoa.
A qualidade dessa relação adquire importância capital, pois é a partir
dela que a capacidade de ver claramente e de orientar a própria conduta por parte
da pessoa que se relaciona com o psicólogo vai se estabelecendo.
A palavra “diagnóstico” ainda pode ser útil, mas agora com uma
compreensão abrangente, que se constrói juntamente com o cliente e a serviço
dele, ao longo do atendimento, e que inclui uma visão de seu modo de ser, da
natureza da situação e também dos rumos que poderiam dar um sentido positivo à
dinâmica da vida.
4. CARACTERÍSTICAS DA
PSICOLOGIA HUMANISTA
- Fornece
uma ampla perspectiva holística, ou seja, caracteriza-se por ver a pessoa como
um todo, numa base global. Cada um dos aspectos possui a mesma relevância. Os
pensamentos, o corpo, as emoções e o lado espiritual. Estes aspectos estão
inter-relacionados e se confluem mutuamente. Eles são a principal via pela qual
o indivíduo encontra a si mesmo.
- A
existência humana ocorre em um contexto interpessoal, portanto, é muito
importante e necessário o relacionamento com os outros, levando em conta o
contexto que é produzido, para o desenvolvimento individual do ser humano.
- As
pessoas possuem a capacidade de fazer as suas próprias escolhas, de
responsabilizar-se e de proceder para um desenvolvimento e implantação do seu
próprio potencial.
-
Promove e facilita o desenvolvimento pessoal. O psicólogo serve como uma
ferramenta para que a pessoa, através de recursos próprios, possa vir a
compreender-se e desenvolver-se.
- As
pessoas têm uma tendência inata de autorrealização. O ser humano pode
confiar na sabedoria dessa parte do seu interior, já toda a cura está em suas
próprias respostas. Isto precisa ser entendido, pois não é necessário controlar
o ambiente ou controlar as próprias emoções suprimindo-as.
5. CRÍTICAS
ENFRENTADAS PELA PERSPECTIVA HUMANISTA
A perspectiva humanista
desencadeou uma série de críticas, nos seguintes aspectos:
Conceitos supostamente
vagos e subjetivos, quando Maslow define pessoas autorrealizadas como francas,
espontâneas, afetuosas, com autoaceitação e produtivas. Os críticos mostraram
que, se o perfil do grupo de pessoas analisadas mudasse, provavelmente se obteriam
outras características para a autorrealização.
Se opuseram a ideia de
Rogers de que a punica pergunta que importa é “Estou vivendo de um modo que é
profundamente gratificante para mim e que realmente me expressa? ” (Citado por
Wallach & Wallach). Para os críticos, o individualismo incentivado pela
psicologia humanista – confiar e agir de acordo com seus próprios sentimentos,
ser verdadeiro consigo mesmo, satisfazer a si mesmo – pode levar à satisfação
excessiva dos próprios desejos, ao egoísmo, e à erosão de restrições morais.
Para compreender melhor a dimensão do individualismo incentivado, imagine você
trabalhando num grupo de pessoas que se recusam a realizar qualquer tarefa que
não seja satisfatória, ou que não expresse verdadeiramente a sua identidade.
Na contrapartida, os
humanistas argumentaram que o primeiro passo para amar os outros, é na verdade,
uma autoaceitação segura e não defensiva. De fato, pessoas que se sentem amadas
e aceitas, pelo que são e não apenas pelas suas realizações, têm atitudes menos
defensivas (Schimel et al., 2001).
Outra acusação feita a
Psicologia humanista é que ela não leva em conta a realidade da nossa
capacidade humana para o mal, na qual as pessoas são basicamente boas, tudo
será resolvido. A psicologia humanista ,
dizem os críticos, incentiva a esperança necessária, mas não o realismo
igualmente necessário acerca do mal.
REFERÊNCIAS:
MYERS, D.G.; DEWALL,
C.N. Psicologia. Rio de Janeiro:
Editora “Gen” Grupo
Editorial Nacional,
2017. Pg. 470, 471 e 472 .
MACHADO, Geraldo Magela. Psicologia Humanista. Disponível em: < https://www.infoescola.com/psicologia/psicologia-humanista/
> Acesso: 6 de outubro de 2018.
MARTINS, M.A. Estudos de Psicologia. vol. 26,
núm. 1, enero-marzo, 2009, pp. 93-100. Disponível em http://www.redalyc.org/pdf/3953/395335850010.pdf.
Acessado em 15 de outubro de 2018.
BLOG A MENTE É MARAVILHOSA. O que é a Psicologia Humanista? Disponível
em < https://amenteemaravilhosa.com.br/psicologia-humanista/
> Acesso em: 13 de outubro de 2018.
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