sábado, 29 de fevereiro de 2020

Fichamento do Artigo: Os Conflitos na Fronteira de Contato entre Pais e Filhos Adolescentes

SILVA, R. Pepsico. Os Conflitos na Fronteira de Contato entre Pais e Filhos Adolescentes. Disponível em:  http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-25262015000100004.  IGT rede vol.12 no.22 Rio de janeiro, 2015. Acesso em 29/02/2020 às 12:02 hs.
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O Artigo propõe uma discussão sobre conflitos na relação entre os pais e filhos adolescentes, identificando aspectos que dificultam essa relação, quando os conflitos se instalam e como essa relação se ajusta. 

Trata ainda das concepções da adolescência, os principais conceitos, a relação saúde e doença em Gestalt-terapia, e a relação entre pais e filhos na perspectiva da Gestalt-terapia. 

Leva em consideração preliminar, o fato da família tem sofrido várias transformações, novas configurações em que os pais acabam assumindo diferentes papéis.

Afirma que a relação dos pais com os filhos na adolescência ainda é uma questão não resolvida e com a qual os pais encontram dificuldade.

 A adolescência, é apresentada como momento de transformação física e emocional, diversos lutos como: luto do corpo, do luto dos pais da infância, onde espaços ficam restritos e a sensação de lugar sem saída, leva os adolescentes a um embate com seus pais, que compromete a relação.

O artigo tem como objetivo em como objetivo auxiliá-los na condução de uma reflexão, l entre pais e filhos, e é endereçado aos adolescentes que estão passando por esta fase, aos pais, assim como aos terapeutas.

Propõe uma discussão sobre alguns aspectos da relação dos pais com os filhos na adolescência, além de concepções de adolescência, o adolescente em si, seu corpo, sua mente, e a relação adolescente e família, bem como, identificar os aspectos que dificultam essa relação, quando os conflitos se instalam e quais os ajustes utilizados na relação.

Conceitua a adolescência entre os 9 e 14 anos de idade, marcada por mudanças corporais e hormonais, compreendendo seu processo de desenvolvimento biológico. Além disso, adolescência como uma fenômeno psicológico e social (psicossocial), com ênfase na influência do ambiente vivido pelo adolescente, do ponto de vista social, econômico e cultural.

"Outeiral (1994) define a palavra adolescência como sendo "olescer" (crescer), significando o processo de crescimento vivido pelo indivíduo, e "adolescer", que se origina da palavra adoecer. Esses dois significados levam à reflexão sobre o momento da vida do adolescente. Assim, entendemos adolescência, por um lado, como uma aptidão para crescer no sentido físico e psíquico e, por outro, uma condição de adoecer - em termos de sofrimento emocional- com base nas transformações biológicas e mentais que perpassam essa etapa."

Divide a adolescência em duas fases: de 9-14 anos, onde acontecem as traNAformaçõies corporais e as alterações psíquicas. entre 14 e 16 anos ocorrem as questões da sexualidade. Adolescência final vai de 17 a 20 anos, fase na qual se estabelecem vínculos com os pais, definição e aceitação do novo corpo e mudanças psíquicas para o mundo Adulto (OUTEIRAL.1994)

Menciona o autor Aberastury & Knobel (1988),  afirmando  que "além do luto pelo corpo, o adolescente vivencia o luto pela identidade infantil e o luto pelos pais da infância. De acordo com estes autores, pode-se compreender essa identidade infantil como a fase onde a criança vivencia um vínculo de dependência dos seus pais, e a adolescência ao contrário,  partem para os grupos e seus pares, em direção a uma maior independência.

Alguns adolescentes aceitam sua inclusão , seu corpo novo, sua nova imagem, mudança de sua identidade, porém, ainda vivenciam a adaptação a essas transformações.

Eles oscilam entre dependência e independência, ora age como criança , ora como adulto. momentos de dependência dos pais, e momentos de independência, capazes de tomar decisões, mantendo as contradições confusões, dolorosa marcada por conflitos tanto com a família como 

A relação dos pais com seus filhos adolescentes vai adoecer, quando ambos, por não conseguirem, diante do novo, se compreenderem, buscando maneiras de lidar com suas dificuldades de forma não saudável, interrompem o contato pleno,  e deixam comprometido o fluir da relação.

A autora relata que como psicoterapeuta no atendimento de adolescentes, o conflito vivido por eles na relação com os pais acontece quando falta uma relação dialógica, quando em um dado momento, um deixa de olhar para o outro.  O diálogo é que garante o contrato pleno com o filho, e para isso, os pais precisam estar abertos um para o outro, sem reservas, vencendo o medo de não estar mais no controle.

Os pais estabelecem as prioridades, determinam o que devem fazer, mensuram o quão deve ser alto seu desempenho intelectual e são incompreensíveis com as falhas e com o insucesso dentro do esperado por eles. 

"Já os adolescentes, por falta de repertório e de maturidade, entram num embate com seus pais, numa postura de autoafirmação que resulta na interrupção de contato na relação."

A relação dialógica demanda estar com outro plenamente, escutar, perceber e procurar entender as necessidades do outro, o que possibilita que o adolescente possa lidar com tantas mudanças de forma menos conflituosa.
A conquista da independência do adolescente é vista como um processo doloroso para ambos.


Algumas implicações que trazem conflitos para a relação pais e filhos: projeção do pais  sobre seus filhos crianças, e estes se assustam com os adolescentes que buscam a independização e seguem novos caminhos, antes não escolhidos por seus pais. A situação de oposição aos pais é um dos momentos de construção da sua identidade. Ao opor-se, o adolescente afirma a si próprio enquanto sujeito único e singular.

Chama atenção para a perda da capacidade de manter uma relação plena, livre de conflitos, empobrecendo a relação quanto à qualidade  que pode proporcionar a interação indivíduo/ambiente positiva e que possibilite mudanças no seu campo relacional.

A autora abordou as mudanças vividas pelos adolescentes e pais, os lutos, e mostrou sobretudo que não só os adolescentes mas também os pais não estão capacitados, preparados para esse enfrentamento., sendo nesse momento confuso em que se instalação os conflitos da relação pais e filhos. Isso pode ser minimizado a partir da relação dialógica plena,  entre ambos. 

A autora ainda afirma que "os fatores que levam pais e filhos a não conseguirem estabelecer um contato pleno e dialógico entre eles estão relacionados à interrupção da expressão aberta de sentimentos e ideias, projetando um no outro as dificuldades e necessidades particulares de cada um, exigindo que o outro (pai e filho) seja ou faça exatamente como é esperado ou desejado."

Os objetivos de pais e filhos se distanciam quando há uma disputa de poder entre ambos; os pais querem impor suas ideias e valores, os filhos querem o direito de ser eles mesmos, diferentes de seus pais, ou descobrir suas verdadeiras identidades por meio da oposição a eles.















Fichamento do Artigo: A comunicação em famílias com filhos adolescentes.

WAGNER, Adriana; FLACKE, Denise; SILVEIRA, Luiza; MOSMANN, Clarisse. Scielo. A Comunicação em famílias com filhos adolescentes. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v7n1/v7n1a08.pdf.  São Paulo, 2002. Acessado em 29/02/2020 às 11:07 hs.
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O presente artigo trata da adolescência  com ênfase e confrontos entre pais e filhos. As pesquisas  tiveram como objetivo saber como os adolescentes avaliam a comunicação que estabelecem na família.

Chama atenção para a fase de intensas emoções, onde o adolescente busca a sua própria identidade, afastando-se da família nuclear e se envolvendo mais com grupos com os quais tem afinidades. Sendo assim, a relação entre os membros da família é essencial, para potencializar e auxiliar o estabelecimento de relações mais satisfatórias e saudáveis que os adolescentes estabelecem.

Enfatiza a necessidade dos pais tornarem-se mais flexíveis e manter um equilíbrio em sua autoridade a fim de harmonizar a família. Essa flexibilidade possibilita que o adolescente possa vivenciar experiências em diferentes territórios, buscando os pais quando se sentem inseguros e se afastando para experienciar a sua independência.

Constatou-se que apesar das mulheres terem entrado no mercado de trabalho,continuam sendo a principal cuidadora do lar e dos filhos, ratificando os papéis tradicionais baseados nos estereótipos de gênero ligados à mulher, ocasionando o acúmulo de funções desempenhadas pela mulher.

Contudo, cabe principalmente, à mãe,  o papel de dialogar com seus filhos, e estar atenta às suas necessidades e interesses. Pick e Pakis (1995) constataram que, a mãe é quem melhor se comunica com os filhos, independentemente, de sexo.

Questionou-se o papel dos pais  no núcleo familiar, que embora tenham ocorrido mudanças nessa relação entre o pai e filhos, mesmo assim, ainda predomina a atuação da mãe nas relações com os filhos, observando-se ainda em maior frequência, a mãe cuidando dos filhos e o pai como provedor da família.

Observou-se que, adolescentes que possuem irmãos mais velhos, acabam procurando-os para esclarecimentos e conselhos, ao invés de buscar essa relação com os pais. Destacou que dependendo  do tipo de relação estabelecida entre o adolescente e seu pai ou mãe, o irmão mais velho parece entrar na dinâmica familiar como quem supre a baixa freqüência de diálogo com ambos, especialmente, a figura paterna.

As pesquisas possibilitaram conhecer a frequência das conversas, o grau de entendimento e o nível de coerência que os adolescentes observam entre o que se fala e o que se faz.

Observou-se que  quase metade relatou ter conversas com o pai, e um pouco menos da metade relatou não conversar com o pai. A sua maioria consegue manter uma relação de compreensão  no diálogo com o pai, e uma pequena minoria relatou nunca haver acordo com o pai.

Quanto às mães conseguem manter alta relação de diálogo com os filhos, e apenas uma minoria dizem nada conversar. 

Quando os pais conseguem manter uma relação de coerência entre o que se fala e o que se faz, acabam  fortalecendo uma relação de credibilidade com os filhos, sendo que a maioria destes, se sentem compreendidos pela mãe, e que geralmente conseguem chegar a um consenso. Qualquer que seja a relação com pai ou mãe, os filhos valorizam a coerência entre o discurso e as atitudes dos pais.

Chama atenção para o fato de que que existe uma certa hierarquia que define qual a pessoa escolhida pelos adolescentes para conversar. Os autores confirmara os dados da literatura (Pick & Palos, 1995; Carmona, 2000), em que "a mãe é citada, pela maioria dos adolescentes, como a pessoa da família com quem os adolescentes mais conversam, sendo considerada uma pessoa muito coerente e com grande capacidade de entendimento". 





Fichamento - Como fazer? Tipos?

Conceitualmente, fichamento é um resumo das principais ideias de um texto. É bastante utilizado como técnica de estudo e no processo de revisão da literatura. Nele, são resumidas e destacadas as partes mais importantes do texto com o objetivo de fazer futuras consultas.

Como fazer o fichamento?

A leitura breve dos documentos é atividade essencial para que se inicie a criação de um fichamento. Essa leitura é importante para você se ambientar com o conteúdo caso seja algo novo para você. Nessa fase, a troca de idéias com seu orientador deve ser frequente. Lembre-se que ele tem uma bagagem maior que você nesse assunto.
Se você já tiver o objetivo geral e específico definidos ou questões de pesquisa iniciais, você ja pode começar a registrar no fichamento os trechos do texto em que aquele artigo ou livro responde as questões de pesquisa ou estão contribuindo com seu objetivo geral e específico. Em resumo, através do fichamento você pode identificar, analisar, conhecer e destacar os pontos mais importantes de um determinado assunto.

Fichamento nas normas ABNT

Em muitos casos, é interessante que você siga normas ABNT na construção do seu fichamento. Ao seguir as normas ABNT, você poupará tempo caso precise utilizar este documento para futuros trabalhos. Pensando nisso, o Fastformat desenvolveu um template especialmente para a construção de fichamentos. Para acessá-lo utilize o link: Fichamento nas normas ABNT

Tipos de fichamento

Existem modelos diferentes deste recurso, cada um utilizado conforme a sua necessidade. Desta forma é necessário saber exatamente o que você quer com o fichamento. Existe o fichamento bibliográfico, o modelo de fichamento de citação e o modelo de fichamento de resumo ou conteúdo. Cada um deles é explicado detalhadamente a seguir.

Fichamento Bibliográfico

Utiliza a descrição, com comentários, de parte de uma obra ou dela inteira. As idéias selecionadas, podem ser organizadas por temas seguida pelo número da página onde foi encontrada na obra.

Exemplo:

SILVA, Maria lima. A antropologia social em sua plenitude. Manaus: Revista ser, 1987.
A obra insere-se no campo da história e da antropologia social. A autora utiliza-se de fontes secundárias colhidas por meio de livros, revistas e depoimentos. A abordagem é descritiva e analítica. (página 34)
Aborda os aspectos históricos da condição feminina no Brasil a partir do ano de 1500. A autora descreve em linhas gerais todo s processo de lutas e conquistas da mulher.  (página 43)
Não obstante, o desenvolvimento contínuo de distintas formas de atuação assume importantes posições no estabelecimento das direções preferenciais no sentido do progresso. (página 54)

Fichamento de Citações

Também chamado de temático, é aquele em que serão transcritos trechos importantes do conteúdo. Ou seja, você vai copiar as partes que relevantes do texto, não se esquecendo de colocar as devidas aspas. Caso você não queira o trecho todo, insira “[…]” antes e/ou depois, destacando que fez o corte da frase.

Exemplo:


Educação da mulher: a perpetuação da injustiça (pp. 30 – 132). Segundo capítulo.
SILVA, Maria lima. A antropologia social em sua plenitude. Manaus: Revista ser, 1987.
uma das primeiras feministas do Brasil, Nísia Floresta Augusta, defendeu a abolição da escravatura, ao lado de propostas como educação e a emancipação da mulher e a instauração da República” (p.30)
“na justiça brasileira, é comum os assassinos de mulheres serem absolvidos sob a defesa de honra” (p. 132)
“a mulher buscou com todas forças sua conquista no mundo totalmente masculino” (p.43)

Fichamento de Resumo ou Conteúdo

Também chamado de fichamento de conteúdo. Nele, suas idéias podem ser inseridas seguindo a ordem em que aparecem no texto. Você deve utilizar suas próprias palavras, criar diferentes esquemas e colocar exemplos e argumentos.

Exemplo:

Educação da mulher: a perpetuação da injustiça (pp. 30 – 132) segunda capítulo.
SILVA, Maria lima. A antropologia social em sua plenitude. Manaus: Revista ser, 1987.
O trabalho da autora baseia-se em análise de textos e na própria vivência nos movimentos feministas, como relato de uma prática.
A autora divide seu texto em fases históricas compreendidas entre Brasil Colônia (1500 – 1822), até os anos de 1975 em que foi considerado o Ano Internacional da Mulher.
A autora trabalha ainda assuntos como mulheres da periferia de São Paulo, a luta por creches, violência, participação em greves, saúde e sexualidade.
Modelo: 

Fonte: FASTFORMAT.  Fichamento> Como fazer, tipos e exemplos. Disponível em: https://blog.fastformat.co/como-fazer-um-fichamento/, 2017. Acessado em 29/02/2020 às 10:51 hs.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Resumo do Artigo Psicologia Social Contemporânea: Principais Tendências e Perspectivas Nacionais e Internacionais

Artigo publicado por Maria Cristina Ferreira, Universidade Salgado de Oliveira, traz uma perspectiva sobre o estado atual da Psicologia Social no plano nacional e internacional.


BREVE HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL

  • Tem se caracterizado pela pluralidade e multiplicidade de abordagens teóricas de conhecimentos sociopsicológicos, e devido a sua amplitude tem dificultado delimitar o seu objeto de estudo.
  • Tem como centro das preocupações o indivíduo-sociedade, ou seja, estudar as relações entre indivíduos, deste com a sociedade e a cultura.
  • Dedica-se prioritariamente ao estudo dos processos socioculturais, concebendo o indivíduo como integrante desse sistema, porém, vem focando cada vez mais em processos intraindividuais.
  • ênfase dada ao indivíduo e à sociedade levou a duas modalidades de Psicologia Social: Psicologia Social Psicológica (EUA) que procura explicar sentimentos, pensativos e comportamentos  na presença real ou imaginada de outras pessoas, focando ainda no modo como as pessoas respondem aso estímulos sociais; e a Psicologia Social Sociológica (EUROPA) que tem como foco o estudo da experiência social que o indivíduo adquire a partir de sua participação nos diferentes grupos sociais com os quais convive, privilegiando os fenômenos grupais e sociais.
  • Surge mais recentemente, na América Latina, a Psicologia Social Crítica ou Psicologia Social-Histórico-Crítica por adotarem uma postura crítica em relação às instituições, organizações e práticas da sociedade atual e conhecimentos produzidos pela Psicologia Social, colocando-se contra a opressão  e a exploração presentes na maioria das sociedades e têm como um de seus principais objetivos a promoção da mudança social como forma de garantir o bem-estar do ser humano, como bem afirma Hepbun,2003 apud  Maria Cristina Ferreira.
PRINCIPAIS TENDÊNCIAS QUE MARCARAM A PSICOLOGIA SOCIAL

A Psicologia Social na América do Norte (AN):
  • Obras que marcaram a fundação oficial da Psi Social na AN: o livro Uma introdução à psicologia social, de autoria de William McDougall, no âmbito da sociologia, e o livro Psicologia social: uma resenha e um livro texto, de autoria de Edward Ross, no âmbito da Psicologia (Pepitone, 1981).
  • A Psicologia Social se desenvolveu no âmbito das duas disciplinas,a té que no século XX, a Psicologia Social Psicológica se torna a forte tendência, sob influência do behaviorismo.
  • Floyd Allport, em seu livro texto de Psicologia Social (1924) defendia a ideia de que a Psicologia Social deveria focar no estudo experimental do indivíduo, diante dos estímulos de  seu ambiente social que era submetido.
  • Allport define os contornos da Psicologia Social Psicológica como uma disciplina objetiva, de base experimental e focada no indivíduo (Franzoi, 2007 apud Ferreira). 
  • 1920-1930 - domínio dos estudos sobre ATITUDES, INFLUÊNCIA SOCIAL INTERPESSOAL e da DINÂMICA DE GRUPOS.
  • ATITUDES  - Desenveu técnicas para mensurar o que era um fenômeno mental.
  • INFLUÊNCIA SOCIAL e DINÂMICA DE GRUPOS psicólogos influenciados pela Gestalt  procuravam conhecer o processo de formação de normas sociais, concluindo que os grupos desenvolvem as normas que governam e julgam os indivíduos (Normas Grupais).
  •  (Lewin, Lippitt & White, 1939) dedicaram-se à análise da influência dos estilos de liderança e do clima grupal sobre o comportamento dos membros do grupo e que havia uma liderança democrática que produzia tais normas, tornando o trabalho produtivo, mesmo que o líder não esteja presente.
  • Liderança Laissez-faire, contribuía para que o membros permanecessem passivos.
  • Liderança Autocrática deixava seus membros agressivos e apáticos.
  • Anos 20 , marcado o pós guerra, pela ATITUDE e PERCEPÇÃO DA PESSOA, surgindo estudos sobre a capacidade de comunicação e persuasão. A percepção de pessoas até hoje continua sendo uma das áreas centrais de estudo da Psicologia Social Psicológica.
  • Teoria do Equilíbrio de Heider (1946), as pessoas tendem a ter posições coerentes em relação a um mesmo objeto ou pessoa, mantendo-se em equilíbrio. Quando não há equilíbrio vivem situação de tensão e procuram restabelecer  mudando elementos a ele relacionados.
  • 1950-1960 - Renovam-se os interesses pelas pesquisas sobre influencia social e processos intergrupais. 
  • Surgem estudos sobre CONFORMIDADE estavam voltados para investigar os diferentes fatores que levam o indivíduo a permanecerem no grupo mesmo que não concordem com suas ideias. (Ex: Experimento de Milgran (1965) sobre obediência e autoridade).
  • Surge  a Teoria dos Processos de Comparação Social (Festinger, 1954) que defende que as pessoas necessitam avaliar suas habilidades e opiniões a partir de comparações realizadas com outros indivíduos que lhes são similares. Teoria atualmente muito usada nos processos de formação da identidade pessoal e social.
  • Posteriormente, a teoria da dissonância cognitiva, na qual estabelece que as pessoas são motivadas a procurar o equilíbrio entre suas atitudes e ações. (Festinger,1957).
  • 1970-1980 surgem as Teorias da Atribuição, que vai se debruçar sobre os processos cognitivos responsáveis pelos julgamentos sociais, isto é, pelos mecanismos que levam o indivíduo a perceber e atribuir causas internas (pessoais) ou externas (situacionais) ao comportamento do outro, bem como sobre os erros e vieses que interferem em tais processos.
  • Anos 80 - cognitivismo se consolida como perspectiva dominante da Psicologia Social Psicológica(EUA), e seu principal tema  de investigação passa a ser COGNIÇÃO SOCIAL, que tem como objetivo básico compreender os processos cognitivos que se encontram subjacentes ao pensamento social (Fiske & Taylor, 1984).
  • A crise da Psi Social Psicológica (EUA) foi marcada por uma excessiva individualização sobre o indivíduo e movimentos sociais ocorridos, como o feminismo, por exemplo.Questionou-se a sua relevância social, pois se utilizava de uma linguagem científica neutra distanciando-se dos problemas sociais reais.
  • TENDÊNCIAS ATUAIS: foco em três temas centrais à Psicologia Social: COGNIÇÃO SOCIAL, as ATITUDES e os PROCESSOS GRUPAIS, destacando-se  A NEUROCIÊNCIA SOCIAL e a PSICOLOGIA SOCIAL EVOLUCIONISTA.
  • COGNIÇÃO SOCIAL: subárea da Psicologia, que considera a ATENÇÃO, PERCEPÇÃO, MEMÓRIA e JULGAMENTO  como diferentes etapas do processo cognitivo. Estuda o conteúdo das representações mentais e os mecanismos ocorridos no processo de informação social. Foca ainda nos modos pelos quais as impressões, crenças e cognições sobre os estímulos sociais se formam e afetam o comportamento.
  • Pesquisas mais recentes apontam que os afetos e motivações individuais interagem com as cognições na determinação do comportamento social (Schwarz, 1998), e que fatores motivacionais podem interferir no grau de esforço cognitivo, que processam , facilitam e ativam esquemas cognitivos.
  •  recentemente, porém, os psicólogos sociais cognitivistas passaram a explorar as características da situação social que interferem nas estratégias de processamento, ou seja, uma cognição social situada. Com isso, a ênfase se desloca do “pensamento sobre os estímulos sociais” para o “pensamento no contexto social” (Schwarz, 1998). 
  •  os principais fenômenos psicossociais investigados atualmente, na perspectiva da cognição social, encontram-se o self, a formação de impressões, a percepção de pessoas e os estereótipos.
  •  No contexto do cognitivismo, o self é conceituado como um autoesquema, isto é, como uma representação mental que contém o conhecimento do percebedor acerca de si próprio, no que se refere a suas características de personalidade, papéis sociais, experiências passadas e metas futuras (Quinn & cols., 2003). O self decorre, portanto, de um processo flexível e construtivo de julgamento sobre si mesmo.
  • Os estereótipos, a formação de impressões e a percepção de pessoas constituem temas tradicionalmente estudados pela Psicologia Social e centrais à área de cognição social.
  • Os estereótipos consistem em esquemas ou representações mentais sobre grupos sociais, interferindo ativamente no processo de formação de impressão e percepção de pessoas. estudos mostram que as pessoas costumam fazer INFERÊNCIAS INICIAIS (formação e percepção de pessoa) baseada em ESTERIÓTIPOS. Posteriormente, dependendo de sua motivação e habilidade poderá corrigir suas impressões iniciais.
  • Atitudes estão associadas a crenças, valores e opiniões. São avaliações gerais que variam do extremo negativo ao extremo positivo, dos objetos presentes no mundo social.
  •  “formação de atitudes” e “mudança de atitudes”  são expressões vinculadas a processos distintos (Crano & Prislin, 2006). Assim é que a formação de atitudes costuma ocorrer de forma não consciente, por meio de aprendizagem condicionada ou mediante a mera exposição a estímulos vivenciados como afetivamente positivos. A mudança de atitudes, por seu turno, costuma ocorrer no plano consciente e vem sendo mais recentemente explicada pelos modelos de processos duais (Chaiken & Trope, 1999).
  • HEURÍSTICAS são atalhos mentais que usamos para simplificar a solução de problemas cognitivos complexos. São regras inconscientes para reformular problemas e transformá-los em operações mais simples e quase automáticas.
  • PROCESSOS GRUPAIS: avanços realizados em metodologias de análises de dados que consideram o grupo uma unidade autônoma e não uma soma de indivíduos têm propiciado avanços consideráveis no estado atual do conhecimento sobre os processos grupais. 
  • NEUROCIÊNCIA SOCIAL: assim cunhada pela primeira vez por Cacioppo e Berntson (1992), surge movida principalmente pelo interesse de investigar as possíveis associações existentes entre a cognição social e as funções cerebrais, com o intuito de compreender o papel desempenhado pelas estruturas neurais no processamento da informação social (Adolphs, 2009).  campo promissor de investigação na área de Psicologia Social que poderá indubitavelmente contribuir para maior compreensão do comportamento social.
  • PSICOLOGIA SOCIAL EVOLUCIONISTA: tem origem na Teoria da Evolução de Darwin segundo a qual a evolução das espécies se dá com base em um ciclo que inclui a variação, a competição e a hereditariedade.  As espécies apresentam variações em suas características constituintes e habilidades para lidarem com seu meio ambiente e que  somente aquelas dotadas de maiores habilidades competitivas irão conseguir sobreviver, bem como transmitir tais habilidades para a geração seguinte.  Os psicólogos sociais evolucionistas defendem que processos similares à evolução genética operam na transmissão da cultura. Diferentes grupamentos humanos variam em suas crenças e valores culturais, e que, em função de recursos cognitivos limitados, algumas dessas variantes culturais são mais prováveis de serem aprendidas e lembradas, em geral aquelas transmitidas por modelos mais proeminentes (pais, celebridades etc.).  Apoia-se no pressuposto de que muitos pensamentos, sentimentos e comportamentos sociais encontram-se associados a mecanismos biológicos que interagem de forma dinâmica com processos psicológicos e de aprendizagem, no interior de uma determinada cultura.
A Psicologia Social na Europa: Evolução e Tendências Atuais
  • Iniciou a partir de 1970 mo0tivada pela crise da Psicologia Social dos EUA.
  •  Entre os temas de estudo mais frequentes no contexto europeu encontram-se a identidade social, que se insere principalmente no contexto das relações intergrupais, e as representações sociais, que remetem a uma psicologia dos grupos e coletividades
  • TEORIA DA IDENTIDADE SOCIAL: procuraram enfatizar a dimensão social do comportamento individual e grupal, ao postularem que o indivíduo é moldado pela sociedade e pela cultura. (Tajfel, 1981; Tajfel & Turner, 1986). defendem que as relações intergrupais estão intimamente relacionadas a processos de identificação grupal e de comparação social. Apoia-se em três postulados: (1) o autoconceito é derivado da identificação e pertença grupal; (2) as pessoas são motivadas a manter uma autoestima positiva; (3) as pessoas estabelecem uma identidade social positiva mediante a comparação favorável de seu próprio grupo (in-group) com outros grupos sociais (out-groups).
  • TEORIA DA CATEGORIZAÇÃO DE TURNER, HOGG, OAKES, REICHER E WETHERELL (1987): tem foco nos fatores que levam os indivíduos a realizarem determinadas categorizações, bem como suas consequências para o comportamento coletivo. Postula-se, assim, que a depender da força da pressão social presente em determinadas situações, as pessoas deixarão de lado suas características idiossincráticas (autopercepção) e ativarão suas identidades sociais, o que as levará ao engajamento em ações coletivas. Para eles, as identidades sociais consistem em categorias socialmente construídas que se mostram mais ou menos salientes, em função das características da situação social. 
  • TEORIA DA IDENTIDADE SOCIAL vem procurando elucidar o papel desempenhado pelo autoconceito nos processos e relações interpessoais ao articular fenômenos sociocognitivos, motivacionais e macrossocial.Vem sendo utilizada mais recentemente não apenas no estudo das relações intergrupais, mas também na investigação da autocategorização e de vários processos grupais, como a coesão, a liderança, a influência social etc.
  • TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: englobam um conjunto de conceitos, imagens e explicações que se originam do senso comum, no contexto das interações e comunicações interpessoais vão se modificando à medida que novos significados vão sendo acrescentados à realidade, apoiando-se nos processos de ancoragem e objetivação.  (Moscovici,1981)
  • TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL (ABRIC, 1994) defende que toda representação social organiza-se em torno de um núcleo central e de elementos periféricos. O núcleo central consiste no elemento essencial da representação, em função de organizá-la e lhe dar sentido.

A Psicologia Social na América Latina: Evolução e Tendências Atuais
  • Até a década de 1970, esteve grandemente influenciada pelo paradigma da Psicologia Social Psicológica.
  • Os Psicólogos Sociais, em prol de uma psicologia social mais contextualizada, isto é, mais voltada para os problemas políticos e sociais que a região vinha enfrentando, passando a adotar a Psicologia Social Crítica, defendendo uma psicologia mais comprometida com a realidade social.
  •  Martín-Baró (1996) enfatiza que a principal tarefa do psicólogo social deve ser a conscientização de pessoas e grupos, como forma de levá-los a desenvolver um saber crítico sobre si e sobre sua realidade, que lhes permita controlar sua própria existência. Que os psicólogos sociais contribuam para a construção de identidades pessoais, coletivas e históricas capazes de romper a situação de alienação das maiorias populares oprimidas e desumanizadas que vivem à margem da sociedade dominante e, consequentemente, levar à mudança social. Para ele (Martin-Baró, 1989), então, a construção teórica em psicologia social deve emergir dos problemas e conflitos vivenciados pelo povo latino-americano, de forma contextualizada com sua história.
A Produção Brasileira em Psicologia Social
  • 1930- surgem as primeiras publicações brasileiras sobre questões psicossociais.
  • 1962 - Ocorre a Institucionalização da Psicologia Social quando o CFP(Conselho Federa de Psicologia) criou o currículo mínimo para os cursos de Psicologia, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino da Psicologia Social.
  • 1970 - A Psicologia Social Psicológica Norte-Americana foi dominante, inclusive na América Latina.
  • 1972 - Publicou-se  o livro “Psicologia social”, de autoria de Aroldo Rodrigues.
  • 1980 -  Criou-se a  da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), estabelecida com o propósito de redefinir o campo da Psicologia Social e contribuir para a construção de um referencial teórico orientado pela concepção de que o ser humano constitui-se em um produto histórico-social, de que indivíduo e sociedade se implicam mutuamente (Jacques & cols., 1998). 
  • 1984 - Publicou-se o livro de Silvia Lane e Vanderley Codo e intitulado “Psicologia social: O homem em movimento”.
  • As três principais vertentes atuais da Psicologia Social, discutidas previamente (Psicologia Social Psicológica, Psicologia Social Sociológica e Psicologia Social Crítica.
  • A preferência dos psicólogos brasileiros pela Psicologia Social Crítica mostra-se coerente com a tendência mais recente de adesão a tal perspectiva que vem sendo observada em diversos outros países da América Latina.
  •  O tema das atitudes, crenças e valores, juntamente com a percepção social, vem, há várias décadas, constituindo-se em um dos principais objetos de estudo dos psicólogos brasileiros. 
  • PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA  se preocupa basicamente com os problemas sociais, procurando assim desenvolver um saber autônomo e capaz de compreender tais fenômenos.




terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Vida Maria - Retrato de uma triste realidade


Esse vídeo-animação "Vida Maria" mostra a realidade das crianças que nascem na zona rual, em estado de pobreza, com todas as limitações estruturais necessárias para que tenham acesso a uma boa educação. 

Evidencia, como as crianças, mesmo interessadas em estudar, não encontram incentivo para persistir, uma vez que, demandam delas responsabilidades de adulto, como os afazeres domésticos de uma casa.

Demonstra como essa atitude vem sendo transmitida de geração a geração, fazendo perpetuar essa cultura excludente da educação, em relação a essas crianças que vivem em estado de pobreza, dada a falta de oportunidades que não existem nessas regiões rurais.

Estudo errado - Gabriel Pensador


Manhê! Tirei um dez na prova
Me dei bem, tirei um cem e eu quero ver quem me reprova
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão
Não aprendi nada de bom
Mas tirei dez (boa filhão!)
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Encarem as crianças com mais seriedade
Pois na escola é onde formamos nossa personalidade
Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância, a exploração, e a indiferença são sócios
Quem devia lucrar só é prejudicado
Assim vocês vão criar uma geração de revoltados
Tá tudo errado e eu já tô de saco cheio
Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio
Juquinha você tá falando demais assim eu vou ter que lhe deixar sem recreio!
Mas é só a verdade professora!
Eu sei, mas colabora se não eu perco o meu emprego!

A Psicologia Educacional e Escolar em São Paulo: Construção de um novo homem.



Trata-se de um documentário que explica o surgimento da Psicologia Escolar e suas relações com a Educação no contexto da história do Brasil.

"A Psicologia é instituída como campo de aplicação dos conhecimentos da Psicologia Educacional."

Para modernizar o país era necessário construir um novo homem para uma nova sociedade e a responsabilidade coube à Educação.  Contudo, a Psicologia vinha como ciência nova, que iria contribuir para o ensino novo. Com a reforma da educação, experiências foram feitas no sentido de separar as crianças de uma mesma idade numa mesma sala, e a partir daí identificar o porque crianças potencialmente em iguais condições, não conseguiam aprender como todas. A partir dessa necessidade de identificação daquilo que impedia o aprendizado esperado, é que surge o profissional de psicologia, que identifica que o problema não está exatamente no sistema mas sim, no aluno, na sua individualidade, na sua relação familiar, no contexto em que vive.

É a partir daí que os papéis tanto da Psicologia educacional e da Psicologia Escolar começam a ser definidos no âmbito da educação.

Resumo do Artigo: Psicologia Escolar e Educacional: história, compromissos e perspectivas - Mitsuko Aparecida Makino Antunes

O presente artigo, traz uma perspectiva história de construção da Psicologia Escolar e Educacional. Trata da relação entre ambas, de como ambas se misturavam e se confundiam até a sua efetiva separação no século XX quando a Psicologia Escolar é reconhecida independente da Psicologia Educacional, tendo em vista que a Psicologia educacional, no âmbito da Pedagogia, se utiliza de muitas teorias de conhecimento que falam de aprendizagem, desenvolvimento humano, inteligência, função da família, motivação, papel de jogos, controle e manipulação do comportamento, formação de personalidade, educação de indígenas e mulheres, etc., que seriam mais tarde definidos como campo do saber da Psicologia Escolar.

Com esse reconhecimento cada uma, Psicologia Escolar e Psicologia Educacional passam a ter seu campo do saber determinado, embora, estejam intrinsecamente relacionadas, porém, não são idênticas.

Psi Educacional tem por finalidade produzir saberes sobre o fenômeno psicológico no processo educativo. A Psi Escolar como campo de atuação e intervenção no espaço escolar ou a ele relacionado.

Embora haja uma interdependência entre Psicologia e Educação, no que diz respeito aos saberes teóricos e a prática pedagógica, a partir de 1930, a Psicologia se consolida no Brasil, e tem como base a estreita relação estabelecida entre esta e a educação.

Seu campo de atuação mais tradicionais passa a ser a clínica e intervenção sobre a organização do trabalho e na educação, em 1962.

“A Educação continuou sendo a base para o desenvolvimento da psicologia, assim como esta permaneceu como principal fundamento para a educação, particularmente no âmbito pedagógico, como sustentação teórica da Didática e da Metodologia de Ensino, bases para a formação de professores.”( Mitsuko Aparecida Makino Antunes)

“Começam a se diferenciar, ainda que de forma não sistemática e formal, a psicologia educacional, como conjunto de saberes que pretende explicar e subsidiar a prática pedagógica, sendo, portanto, de domínio necessário para todos os educadores, e a psicologia escolarcomo campo de atuação de profissionais da psicologia que atuariam no âmbito da escola, desempenhando uma função especifica, alicerçada na psicologia e que se caracterizou inicialmente por adotar o modelo clínico de intervenção.” ( Mitsuko Aparecida Makino Antunes)

“Psicologia educacional, foco de interesse tanto de pedagogos como de psicólogos, e, de outro, o campo da psicologia escolar, como atributo específico do profissional da psicologia que atua no espaço escolar”. ( Mitsuko Aparecida Makino Antunes)

 A psicologia passa a ser criticada pela educação, por enquadramento clínico-terapêutico, baseado no modelo médico, que tendia patologizar e individualizar o processo educativo, rotulando, estigmatizando o educando e com isso tirando da escola a responsabilidade de ação no âmbito escolar.  Daí a necessidade de desenvolver um lugar específico da Psicologia no processo pedagógico.

- Traz a discussão entre o compromisso da Psicologia Escolar e Educacional com a educação de classes mais populares.

A Educação se firma como uma educação rigorosa e amplamente democrática, que deve ser acessível a todos e que não transige na defesa desse princípio. É concebida como instância social responsável pela tarefa de socialização dos conhecimentos.

Educação democrática significa, portanto, democratização de saberes; saberes estes que foram historicamente privilégios - na produção e no acesso - das classes dominantes. Para que ela se realize em cada sujeito, é necessário garantir o domínio de recursos necessários para a apreensão do conhecimento, como o domínio da leitura e da escrita, da matemática e de outros recursos próprios da contemporaneidade, como informática e línguas estrangeiras. 

Discute as possibilidades e limites da Psicologia Escolar e Educacional na construção de políticas públicas de educação comprometidas socialmente com as classes populares.

Deveres  e contribuições da Psicologia Escolar para com a Psicologia Educacional:
  • uma psicologia capaz de compreender o processo ensino-aprendizagem e sua articulação com o desenvolvimento, fundamentada na concreticidade humana (determinações sócio-históricas), compreendida a partir das categorias totalidade, contradição, mediação e superação. 
  •  Fornecer categorias teóricas e conceitos que permitam a compreensão dos processos psicológicos que constituem o sujeito do processo educativo.  
  •  Assumir seu lugar como um dos fundamentos da educação e da prática pedagógica, contribuindo para a compreensão dos fatores presentes no processo educativo a partir de mediações teóricas "fortes", com garantia de estabelecimento de relação indissolúvel entre teoria e prática pedagógica cotidiana.
  •  Propiciar a compreensão do educando a partir da perspectiva de classe e em suas condições concretas de vida, condição necessária para se construir uma prática pedagógica realmente inclusiva e transformadora.
  •  Fundamentar o processo formativo do educador deve propiciar o reconhecimento do educador/professor como sujeito do processo educativo, traduzindo-se na necessidade de mudanças profundas das políticas de formação inicial e continuada desse protagonista fundamental da educação.
  •  A ação do psicólogo escolar deve pautar-se no domínio do referencial teórico da psicologia necessário à educação, mediatizado necessariamente por conhecimentos que são próprios do campo educativo e das áreas de conhecimento correlatas. 
  •  O próprio referencial teórico que aqui defendemos implica o trânsito por outros saberes (totalidade). Daí, a necessidade de superação das práticas tradicionais do psicólogo escolar, muitas vezes pautadas ainda numa perspectiva, nem sempre consciente ou assumida, de ação clínico-terapêutica.

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Mitsuko Aparecida Makino Antunes*
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo


Abordar a história, os compromissos e as perspectivas da Psicologia Escolar e Educacional significa tratar de três dimensões fundamentais de seu estatuto como área de conhecimento articulada a um campo de prática social. 

A natureza dessa relação se expressa, pelo menos, em duas dimensões: a psicologia educacional como um dos fundamentos científicos da educação e da prática pedagógica e a psicologia escolar como modalidade de atuação profissional que tem no processo de escolarização seu campo de ação, com foco na escola e nas relações que aí se estabelecem. Dada a complexidade e a multiplicidade dessas questões, seu estudo comporta um amplo espectro de focos possíveis, tornando necessária uma delimitação que implica a opção por alguns caminhos em detrimento de outros, que podem ser abordados em outras oportunidades.

Numa perspectiva mais ampla, poder-se-ia tratar a Psicologia Escolar e Educacional por algumas de suas articulações mais antigas. A Grécia Antiga, entre outras civilizações, constitui-se numa rica fonte de estudos, por sintetizar, em sua produção filosófica, a teoria do conhecimento, as idéias psicológicas e as propostas sistemáticas de educação da juventude e sua correspondente ação pedagógica. É possível, nessa perspectiva, estudar Protágoras e os sofistas, Pitágoras e a escola pitagórica, Sócrates e a maiêutica, Platão e a Academia, Aristóteles e o Liceu, entre muitos outros. Por esse mesmo foco é possível estudar o pensamento medieval, em que filosofia/teologia, educação/pedagogia e idéias psicológicas permaneceram intimamente articuladas. 

modernidade trará uma complexidade que amplia muito o espectro de análise dessas relações, proporcionando um campo quase incomensurável de estudos, que estende para a contemporaneidade suas determinações e nela se faz presente. Em última análise, pode-se afirmar que a relação entre psicologia e educação, sobretudo em suas mediações com as teorias de conhecimento, é algo que acompanha a própria história do pensamento humano e constitui-se como complexo e extenso campo de estudo. Esta não é a perspectiva que será aqui tratada, mas reiterá-la é necessário para indicar a complexidade e a totalidade da qual faz parte o foco sob o qual a Psicologia Escolar e Educacional será abordada neste texto, qual seja, a Psicologia Escolar e Educacional no Brasil.

O presente texto compõe-se de uma discussão inicial sobre alguns pressupostos do estatuto da Psicologia Escolar e Educacional, uma breve história das relações entre psicologia e educação no Brasil e um ensaio sobre os compromissos e as perspectivas colocadas para a construção de uma Psicologia Escolar e Educacional comprometida socialmente com os interesses da maioria da população.

Estatuto da Psicologia Escolar e Educacional: alguns pressupostos

Essa discussão exige, antes de mais nada, a explicitação de alguns conceitos presentes nos termos da expressão Psicologia Escolar e Educacional.
Entendemos educação como prática social humanizadora, intencional, cuja finalidade é transmitir a cultura construída historicamente pela humanidade. O homem não nasce humanizado, mas torna-se humano por seu pertencimento ao mundo histórico-social e pela incorporação desse mundo em si mesmo, processo este para o qual concorre a educação. A historicidade e a sociabilidade são constitutivas do ser humano; a educação é, nesse processo, determinada e determinante.

A escola pode ser considerada como uma instituição gerada pelas necessidades produzidas por sociedades que, por sua complexidade crescente, demandavam formação específica de seus membros. 

A escola adotou ao longo da história diversas formas, em função das necessidades a que teria que responder, tendo sido, em geral, destinada a uma parcela privilegiada da população, a quem caberia desempenhar funções específicas, articuladas aos interesses dominantes de uma dada sociedade. Essa realidade deve ser, no entanto, compreendida também a partir de suas contradições, sobretudo a concepção de escola como instância que se coloca hoje como uma das condições fundamentais para a democratização e o estabelecimento da plena cidadania a todos, e que, embora não seja o único, é certamente um dos fatores necessários e contingentes para a construção de uma sociedade igualitária e justa. 

Sob essa perspectiva, a escola, tal como nós a concebemos, tem como finalidade promover a universalização do acesso aos bens culturais produzidos pela humanidade, criando condições para a aprendizagem e para o desenvolvimento de todos os membros da sociedade.

A pedagogia pode ser entendida como fundamentação, sistematização e organização da prática educativa. A preocupação pedagógica atravessa a história, sustentando-se em diferentes concepções filosóficas, constituindo-se sob diversas bases teóricas e estabelecendo várias proposições para a ação educativa. Com o desenvolvimento das ciências a partir da modernidade, o conhecimento científico tornou-se sua principal base de sustentação.

A Psicologia Educacional1 pode ser considerada como uma sub-área da psicologia, o que pressupõe esta última como área de conhecimento. Entende-se área de conhecimento como corpus sistemático e organizado de saberes produzidos de acordo com procedimentos definidos, referentes a determinados fenômenos ou conjunto de fenômenos constituintes da realidade, fundamentado em concepções ontológicas, epistemológicas, metodológicas e éticas determinadas.

Faz-se necessário, porém, considerar a diversidade de concepções, abordagens e sistemas teóricos que compõem o conhecimento, particularmente no âmbito das ciências humanas, das quais a psicologia faz parte. Assim, a psicologia da educação pode ser entendida como sub-área de conhecimento, que tem como vocação a produção de saberes relativos ao fenômeno psicológico constituinte do processo educativo.

Psicologia Escolar, diferentemente, define-se pelo âmbito profissional e refere-se a um campo de ação determinado, isto é, o processo de escolarização, tendo por objeto a escola e as relações que aí se estabelecem; fundamenta sua atuação nos conhecimentos produzidos pela psicologia da educação, por outras sub-áreas da psicologia e por outras áreas de conhecimento.

Deve-se, pois, sublinhar que psicologia educacional e psicologia escolar são intrinsecamente relacionadas, mas não são idênticas, nem podem reduzir-se uma à outra, guardando cada qual sua autonomia relativa. 

A primeira é uma área de conhecimento (ou sub-área) e, grosso modo, tem por finalidade produzir saberes sobre o fenômeno psicológico no processo educativoA outra constitui-se como campo de atuação profissionalrealizando intervenções no espaço escolar ou a ele relacionado, tendo como foco o fenômeno psicológico, fundamentada em saberes produzidos, não só, mas principalmente, pela sub-área da psicologia, a psicologia da educação.

Relações entre Psicologia e Educação no Brasil: uma breve história

história da Psicologia Escolar e Educacional no Brasil pode ser identificada desde os tempos coloniais, quando preocupações com a educação e a pedagogia traziam em seu bojo elaborações sobre o fenômeno psicológico. 

Massimi (1986; 1990), ao estudar obras produzidas no período colonial, no âmbito da filosofia, moral, educação e medicina, entre outras, identifica temas como: aprendizagem, desenvolvimento, função da família, motivação, papel dos jogos, controle e manipulação do comportamento, formação da personalidade, educação dos indígenas e da mulher, entre outros temas que, mais tarde, tornaram-se objetos de estudo ou campos de ação da psicologia

É importante destacar que a maioria desses escritos estava comprometida com os interesses metropolitanos e expressava as mazelas de sua dominação na colônia. Entretanto, há contradições, sendo que algumas dessas obras assumiram posições que se opunham aos ideais da metrópole, como a defesa da educação feminina, entre outras. Além disso, várias obras não apenas trataram de temas que viriam a ser próprios da psicologia, mas os trataram de maneira bastante original, antecipando formulações que viriam a ser incorporadas pela psicologia do século XX.

No século XIX, idéias psicológicas articuladas à educação foram também produzidas no interior de outras áreas de conhecimento, embora de maneira mais institucionalizada. No campo da pedagogia, escolas normais (criadas a partir da década de 1830) foram espaços de discussão, ainda que incipientes e pouco sistemáticos, sobre a criança e seu processo educativo, incluindo temas como aprendizagem, desenvolvimento, ensino e outros. 

Em meados do século, essa preocupação torna-se mais sistemática e freqüente e, nos anos finais desse mesmo século, é possível perceber a incorporação de conteúdos que mais tarde viriam a ser considerados como objetos próprios da psicologia educacional, com particular interesse por temas anteriormente estudados, como aprendizagem e desenvolvimento, mas também por outros que já seriam considerados expressões da psicologia do século XX, como a inteligência, por exemplo.

 Deve-se destacar, no âmbito oficial, a Reforma Benjamin Constant, de 1890, que transformou a disciplina filosofia em psicologia e lógica, que, por desdobramento, gerou mais tarde a disciplina pedagogia e psicologia para o ensino normal. Data dessa época a introdução, ainda que assistemática e pontual, do ideário escolanovista, que só mais tarde viria a se tornar hegemônico no pensamento pedagógico e teria na psicologia seu principal fundamento cientifico.

Os anos finais do século XIX e os primeiros anos do século seguinte trazem mudanças profundas na sociedade brasileira: fortalecimento do pensamento liberal; busca da "modernidade"; luta contra a hegemonia do modelo agrário-exportador, em direção ao processo de industrialização.

Essas novas ideias traziam em seu bojo um novo projeto de sociedade, que exigia uma transformação radical da estrutura e da superestrutura social, para o qual seria necessário um novo homem, cabendo à educação responsabilizar-se por sua formação.

Nesse contexto, o debate sobre a educação tomou vulto, com a defesa da difusão da escolaridade para a massa da população e uma maior sistematização das idéias pedagógicas, com crescente influência dos princípios da Escola Nova. Assim, as escolas normais passaram a ser o principal centro de propagação das novas ideias, baseadas nos princípios escolanovistas, com vistas à formação dos novos professores, encarregando-se do ensino, da produção de obras e do início da preocupação com a produção de conhecimentos por meio dos então inaugurados laboratórios de psicologia, fatores estes que deram as bases para as reformas estaduais de ensino promovidas nos anos 1920 e foram por estas potencializados.

Foi nesse quadro que ocorreu, paulatinamente, a conquista de autonomia da psicologia como área especifica de conhecimento no Brasil, deixando de ser produzida no interior de outras áreas do saber, sendo reconhecida como ciência autônoma e dando as condições para que, por essa via, penetrassem os conhecimentos da psicologia que vinham sendo produzidos na Europa e nos Estados Unidos.

Assim, percebe-se uma interdependência entre psicologia e educação, sobretudo pela via da pedagogia, a partir da articulação entre saberes teóricos e prática pedagógica. Pode-se afirmar que o processo pelo qual a psicologia conquistou sua autonomia como área de saber e o incremento do debate educacional e pedagógico nas primeiras décadas do século XX estão intimamente relacionados, de tal maneira que é possível afirmar que psicologia e educação são, historicamente, no Brasil, mutuamente constituintes uma da outra. Esse momento foi responsável pela consolidação da articulação entre psicologia e educação, dando as bases para a penetração e a consolidação daquilo que nos Estados Unidos e Europa já se desenvolvia sob a denominação de psicologia educacional.

O período seguinte, a partir da década de 1930, caracteriza-se pela consolidação da psicologia no Brasil e tem como base a estreita relação estabelecida entre essa área e a educação

Os campos de atuação da psicologia que se desenvolveram a partir dessa época, tornando-se campos tradicionais da profissão, como a atuação clínica e a intervenção sobre a organização do trabalho, tiveram suas raízes na educação, respectivamente pela criação dos Serviços de Orientação Infantil nas Diretorias de Educação do Rio de Janeiro e de São Paulo e da Clínica do Instituto Sedes Sapientiae, com a finalidade de atender crianças com dificuldades escolares, e pela Orientação Profissional, dentre outras ações educacionais, no campo do trabalho.

Ao mesmo tempo, o ensino formal de psicologia em cursos superiores tinha estreita articulação com a educação, pois as cátedras de psicologia estavam vinculadas primordialmente aos cursos de filosofia e de pedagogia, nestes últimos sob a denominação de psicologia educacional.

Muitos foram os trabalhos realizados pela psicologia no âmbito da educação, dentre os quais: Serviço de Psicologia Aplicada do Instituto Pedagógico da Diretoria de Ensino de São Paulo; Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais e, posteriormente, Sociedade Pestalozzi do Brasil; "Escola para Anormais" em Recife; atividades realizadas no INEP, particularmente com a utilização de testes psicológicos; a criação das Clínicas de Orientação Infantil; o trabalho desenvolvido por Helena Antipoff na Escola de Aperfeiçoamento de Professores e na Fazenda do Rosário; Instituto de Seleção e Orientação Profissional - ISOP-FGV; além dos trabalhos desenvolvidos por Ana Maria Poppovic com "crianças abandonadas" no Abrigo Social de Menores da Secretaria de Bem-Estar Social do Município de São Paulo; a fundação do Instituto de Psicologia da PUCSP, oferecendo serviços de medidas escolares, pedagogia terapêutica e orientação psicopedagógica; além das muitas instituições estritamente educacionais que desenvolviam trabalhos relacionados à Psicologia.

Pode-se dizer que a Educação continuou sendo a base para o desenvolvimento da psicologia, assim como esta permaneceu como principal fundamento para a educação, particularmente no âmbito pedagógico, como sustentação teórica da Didática e da Metodologia de Ensino, bases para a formação de professores. Essa tendência se expressa em experiências realizadas pela Escola Experimental da Lapa e pelos Ginásios Vocacionais em São Paulo, dentre outras inúmeras experiências, realizadas em todo o país.
Concomitantemente, o ensino nas Escolas Normais e nos Cursos de Pedagogia continuavam dando à Psicologia espaço privilegiado em seus currículos.

O desenvolvimento da pesquisa também ganha impulso, tendo como referência algumas instituições, como o Instituto de Educação do Rio de Janeiro; Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte; Instituto de Seleção e Orientação Profissional de Recife; Laboratório de Psicologia Educacional do Instituto de Educação (evolução do Instituto Pedagógico de São Paulo); Núcleo de Pesquisas Educacionais da Municipalidade do Rio de Janeiro; Instituto Nacional de Surdos-mudos e o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais - CBPE - e seus correlatos, os Centros Regionais de Pesquisas Educacionais - CRPE; além da produção de escolas normais e universidades.

Nesse contexto, começam a se diferenciar, ainda que de forma não sistemática e formal, a psicologia educacional, como conjunto de saberes que pretende explicar e subsidiar a prática pedagógica, sendo, portanto, de domínio necessário para todos os educadores, e a psicologia escolar, como campo de atuação de profissionais da psicologia que atuariam no âmbito da escola, desempenhando uma função especifica, alicerçada na psicologia e que se caracterizou inicialmente por adotar o modelo clínico de intervenção.

Embora contradições possam ser apontadas, revelando produções teóricas e práticas afinadas com a construção de uma escola comprometida com a aprendizagem e o desenvolvimento de seus alunos, particularmente aqueles oriundos das camadas populares, o papel que a psicologia desempenhou na educação tornou-se objeto de crítica. 

A utilização e a interpretação indiscriminadas e aligeiradas de teorias e técnicas psicológicas, como os testes (principalmente os de nível mental e de prontidão); a responsabilização da criança e de sua família, em nome de problemas ditos de "ordem emocional", para justificar o desempenho do aluno na escola e a redução dos processos pedagógicos aos fatores de natureza psicológica colaboraram para interpretações e práticas no mínimo equivocadas, desprezando o processo educativo como totalidade multideterminada, relegando a segundo plano, ou omitindo, fatores de natureza histórica, social, cultural, política, econômica e, sobretudo, pedagógica na determinação do processo educativo.

Esse processo culmina, em 1962, com a regulamentação da profissão de psicólogo e o estabelecimento de cursos específicos para sua formação. As ações desenvolvidas no período anterior deram as bases para os campos tradicionais de atuação da psicologia: educação, clínica e trabalho.

Um fato interessante a ser mencionado é que, justamente com a regulamentação da profissão, o campo da educação, antes base principal para o desenvolvimento da psicologia no Brasil, torna-se secundário para os profissionais da área. Isso se revela não apenas no âmbito curricular, mas, sobretudo, na preferência de alunos e profissionais pelos campos da clínica e da organização do trabalho. Esse é também um dos fatores explicativos para a adoção de uma modalidade clínico-terapêutica na ação da psicologia escolar, tendo como base o modelo médico, questão que será discutida adiante.

Entretanto, as relações entre educação e psicologia vão se diferenciando. De um lado, a área da psicologia educacional, foco de interesse tanto de pedagogos como de psicólogos, e, de outro, o campo da psicologia escolar, como atributo específico do profissional da psicologia que atua no espaço escolar. 

conhecimento psicológico estava incorporado à Pedagogia e à prática dos educadores e a atuação do psicólogo escolar adotava um modelo cada vez mais clínico-terapêutico, agindo fora da sala de aula, focando sua atenção na dimensão individual do educando e em seus "problemas", atendendo, sobretudo, demandas específicas da escola, que encaminhava as crianças que tinham, a seu ver, "problemas de aprendizagem" ou outras manifestações consideradas como "distúrbios" inerentes ao próprio educando.

Pode-se falar que esse período herdou do período anterior o que pode ser interpretado como hipertrofia da psicologia na educação, numa tendência reducionista, que passou, na década de 1970, a ser criticada tanto por pedagogos como por psicólogos. Criticava-se a utilização dos testes e a interpretação de seus resultados, que atribuía ao aluno a determinação de seus "problemas", desconsiderando as condições pedagógicas; o encaminhamento de alunos com deficiência que, sob a justificativa de lhes proporcionar uma "educação especial", relegava-os a condições aligeiradas de ensino e sem solução de continuidade, reforçando estigmas e preconceitos e produzindo social e pedagogicamente a deficiência intelectual; as interpretações e ações supostamente fundamentadas na psicologia, por educadores e psicólogos, calcadas em fatores como: atraso no desenvolvimento, distúrbios de atenção, motores ou emocionais (estes em geral relacionados estritamente às condições intrínsecas da criança ou da família). Uma das conseqüências apontadas por essas críticas era a desconsideração dos determinantes de natureza social, cultural, econômica e, sobretudo, pedagógica; daí falar-se em reducionismo.


Alguns psicólogos escolares e pesquisadores da área começaram, nessa época, a elaborar uma crítica radical à Psicologia Escolar e Educacional, com base em argumentos semelhantes aos apontados por pedagogos e educadores em geral. De um lado, criticava-se a já apontada hipertrofia da psicologia na educação e o reducionismo dos fatores educacionais e pedagógicos às interpretações psicologizantes. Por outro lado, enfocando mais especificamente a prática da psicologia escolar e aprofundando a crítica a seu modo de ação, avançavam para a demonstração de que o enquadramento clínico-terapêutico baseava-se num modelo médico, estranho às determinações pedagógicas, que tendia a patologizar e individualizar o processo educativo, distanciando-se da compreensão efetiva dos determinantes desse processo e desconsiderando ações então denominadas preventivas, que deveriam voltar-se para as condições mais propriamente pedagógicas, de forma a atuar mais coletivamente, com base naquilo que hoje seria denominado de interdisciplinaridade, com os demais profissionais da educação e da escola.

Alguns dos focos possíveis de atuação eram apontados, naquela época, em direção à formação de professores, à intervenção no âmbito das relações escola-família-comunidade, ao processo grupal estabelecido na instituição escolar, dentre outros. 

Particular preocupação entre psicólogos escolares incidia sobre os índices de reprovação na então 1ª. série do 1º. Grau, que mostravam que mais da metade dos alunos ficava retida nessa série, muitas vezes na condição de alunos multirrepetentes, culminando com o abandono da escola, processo este que atingia fundamentalmente alunos oriundos das classes populares. 

Esse fato levou muitos profissionais da psicologia a se interessar pela alfabetização em especial e, de maneira mais ampla, pela articulação mais estreita entre os conhecimentos produzidos pela psicologia e aqueles produzidos por outras áreas de saber, principalmente a sociologia da educação, uma vez que a questão relativa à relação entre desempenho escolar e condições sócio-econômicas ganhava espaço nos debates educacionais.

Entretanto, poucos trabalhos conseguiram efetivar esse modelo de atuação, comprometido com o processo pedagógico, em decorrência principalmente da expectativa da escola, cristalizada na modalidade clínica de psicologia, pautada no encaminhamento do aluno para que ele fosse "curado" fora do espaço da sala de aula e depois devolvido "sem problemas", tirando da escola a responsabilidade da ação sobre a escolarização da criança. 

Foram, porém, esses poucos trabalhos, muitas vezes pautados na desconstrução dessas expectativas da escola, que deram as bases para a superação daquela psicologia escolar clínico-terapêutica, na direção de uma psicologia que pode ser denominada efetivamente como escolar, delimitando seu campo de atuação e criando uma modalidade de trabalho efetivamente comprometida com o cotidiano da escola em sua função essencialmente pedagógica.

Nesse sentido, a superação dessa situação exigia não somente a crítica à hipertrofia da psicologia na educação, ao reducionismo, às interpretações aligeiradas e banalizadas, às ações fundadas num modelo estranho à educação, como o modelo médico, e à culpabilização da criança e de sua família, mas também a restituição de seu núcleo de bom senso. Fazia-se necessário devolver à psicologia seu lugar no processo pedagógico.

É necessário, pois, que se considere que o processo educativo ocorre no âmbito do sujeito; assim, a dimensão psicológica não pode ser negada, mas incorporada na apreensão do fenômeno em sua totalidade, condição fundamental para a produção de conhecimento nesse campo, responsabilidade da psicologia educacional. Esta, por sua vez, deve fundamentar, naquilo que lhe cabe, a compreensão do fenômeno educativo e dar base para o estabelecimento de processos efetivos de intervenção, que poderiam constituir-se na matriz de atuação do psicólogo escolar.

Dessas considerações parte-se agora para um ensaio que visa discutir possibilidades e limites para a construção de uma Psicologia Escolar e Educacional, sob o foco de seus compromissos e perspectivas.

Compromissos e Perspectivas para a Psicologia Escolar e Educacional

É condição para a discussão de compromissos, assim como das perspectivas que se colocam a partir deles, a explicitação do lugar a partir do qual se fala. Compromisso implica três instânciasaquele que se compromete (neste caso, referimo-nos à Psicologia Escolar e Educacional), aquele com quem se compromete (as classes populares) e aquilo com que se compromete (a construção de uma educação democrática). 

Trata-se, portanto, de discutir o compromisso da Psicologia Escolar e Educacional com a educação das classes populares, o que torna necessário expor a concepção de educação que dá base à posição aqui defendida.

A educação que aqui se afirma é uma educação rigorosa e amplamente democrática, que deve ser acessível a todos e que não transige na defesa desse princípio. É concebida como instância social responsável pela tarefa de socialização dos conhecimentos produzidos pela humanidade ao longo de sua história, criando condições para que todos possam ascender do senso-comum aos saberes fundamentados, articulados e sintéticos sobre o mundo. 

Educação democrática significa, portanto, democratização de saberessaberes estes que foram historicamente privilégios - na produção e no acesso - das classes dominantes. Para que ela se realize em cada sujeito, é necessário garantir o domínio de recursos necessários para a apreensão do conhecimento, como o domínio da leitura e da escrita, da matemática e de outros recursos próprios da contemporaneidade, como informática e línguas estrangeiras. 

Isso, entretanto, constitui-se tão somente o ponto de partida, pois são apenas os meios necessários para a aquisição de outros conhecimentos, que devem ser considerados em todas as suas expressões, da filosofia à ciência e às artes, em permanente diálogo com a cultura própria da criança, que deve ser respeitada e considerada no processo de ensino-aprendizagem. 

Disso decorre uma concepção de prática pedagógica centrada nos processos de ensino e aprendizagem, cuja finalidade é propiciar o desenvolvimento pleno do educando, em todos os aspectos que o constitui como sujeito singular e, ao mesmo tempo, pertencente ao gênero humano.

Essa concepção de educação remete ao compromisso com a concretização de políticas públicas de educação radicalmente comprometidas com os interesses das classes populares. Isso significa garantir pleno acesso e condições de permanência de todos os educandos na escola, independentemente de suas condições, cabendo à escola transformar-se para possibilitar-lhes condições efetivas de escolarização; essa questão traduz o princípio de educação inclusiva, que incorpora não só a educação de alunos com deficiência, mas todos aqueles que, por diversos motivos, são alijados da escola e de seus bens. 

Para isso, faz-se necessário que se construam currículos articulados às finalidades acima expostas, superando os conhecidos "currículos mínimos", geralmente entendidos como paliativos ou educação de segunda categoria para pessoas socialmente consideradas também como tal, com especial atenção aos processos avaliativos, que têm sido um dos meios mais efetivos para a materialização da exclusão de crianças das classes populares ao direito de uma educação de boa qualidade.Esse processo depende também da gestão democrática da escola e, sobretudo, no investimento maciço na formação dos educadores.

Cabe, portanto, discutir as possibilidades e limites da Psicologia Escolar e Educacional na construção de políticas públicas de educação comprometidas socialmente com as classes populares; eis aqui a questão relativa às perspectivas colocadas para essa área de conhecimento e campo de atuação.Disso resulta a afirmação de alguns princípios que podem ser expressos a partir das assertivas que seguem.

A educação é constituída por múltiplos determinantes, dentre os quais os fatores de ordem psicológica; portanto, a psicologia tem contribuição para a Educação.

Que seja uma psicologia capaz de compreender o processo ensino-aprendizagem e sua articulação com o desenvolvimento, fundamentada na concreticidade humana (determinações sócio-históricas), compreendida a partir das categorias totalidade, contradição, mediação e superação. 

Deve fornecer categorias teóricas e conceitos que permitam a compreensão dos processos psicológicos que constituem o sujeito do processo educativo e são necessários para a efetivação da ação pedagógica.

A psicologia deve assumir seu lugar como um dos fundamentos da educação e da prática pedagógica, contribuindo para a compreensão dos fatores presentes no processo educativo a partir de mediações teóricas "fortes", com garantia de estabelecimento de relação indissolúvel entre teoria e prática pedagógica cotidiana.

Esta psicologia deve propiciar a compreensão do educando a partir da perspectiva de classe e em suas condições concretas de vida, condição necessária para se construir uma prática pedagógica realmente inclusiva e transformadora.

psicologia como um dos fundamentos do processo formativo do educador deve propiciar o reconhecimento do educador/professor como sujeito do processo educativo, traduzindo-se na necessidade de mudanças profundas das políticas de formação inicial e continuada desse protagonista fundamental da educação.

Por sua vez, a ação do psicólogo escolar deve pautar-se no domínio do referencial teórico da psicologia necessário à educação, mediatizado necessariamente por conhecimentos que são próprios do campo educativo e das áreas de conhecimento correlatas. 

O próprio referencial teórico que aqui defendemos implica o trânsito por outros saberes (totalidade). Daí, a necessidade de superação das práticas tradicionais do psicólogo escolar, muitas vezes pautadas ainda numa perspectiva, nem sempre consciente ou assumida, de ação clínico-terapêutica.

Em outras palavras, afirmamos uma psicologia escolar comprometida radicalmente com a educação das classes populares, que supere o modelo clínico-terapêutico disfarçado e dissimulado ainda presente na representação que o psicólogo tem de sua própria ação, entendendo que a representação e, consequentemente, as expectativas que os demais profissionais da educação têm da psicologia só serão superadas pela própria prática do psicólogo escolar.

Mudanças efetivas só ocorrerão a partir do envolvimento do psicólogo com as questões concretas da educação e da prática pedagógica; é necessário superar o preconceito de não querer tornar-se "pedagogo". O psicólogo não é pedagogo, mas se quiser trabalhar com educação terá que mergulhar nessa realidade como alguém que faz parte dela, reconhecendo-se como portador de um conhecimento que pode e deve ser socializado com os demais educadores, tanto no trabalho interdisciplinar, como na formação de educadores, sobretudo professores; que detém um saber que pode contribuir com os processos sócio-institucionais da escola; tem um conhecimento específico que pode e deve reconhecer o que é próprio de sua formação profissional, e, ouso afirmar, algumas vezes inclusive de caráter clínico-terapêutico, voltado para casos individuais; possui ou pode desenvolver conhecimentos importantes para a gestão de sistemas e redes de ensino, sobretudo no âmbito de diagnósticos educacionais (avaliação institucional, docente, discente etc.) e na intervenção sobre tais resultados.

Considerações Finais

As questões aqui expostas constituem-se em elaborações também situadas num dado momento histórico e numa dada perspectiva teórica e consequentemente política, que reflete concepções de homem, sociedade, educação, psicologia e, sobretudo, de Psicologia Escolar e Educacional circunscritas. Isso significa que esta é uma dentre muitas posições acerca dessa área de conhecimento e campo de práticas. É, portanto, importante que se estabeleça um amplo diálogo entre posições e perspectivas, que permitam o avanço dessa área de saber e o aperfeiçoamento das práticas a ela correlatas.

Entretanto, há dois aspectos que devem ser considerados nessa discussão e que remetem a aspectos cujas qualidades são muito distintas, mas que devem fazer-se invariavelmente presentes.
A primeira questão diz respeito à possibilidade de inserção do psicólogo escolar em seu campo. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional proíbe deduzir dos 25% dos orçamentos públicos os salários de profissionais responsáveis por "atendimento médico, odontológico, psicológico e fonoaudiológico". Isso parece impedir, numa primeira leitura, a presença do psicólogo nesse campo sobre o qual incide toda nossa discussão. É preciso, no entanto, que se analise mais profundamente o texto da lei e os significados a ele subjacentes, cotejando-os com as questões aqui abordadas.

É compreensível e aceitável essa prescrição legal, pois, pela maneira como está colocado o serviço psicológico, deduz-se que a concepção que lhe dá base carrega a noção de atendimento clínico-terapêutico, de incidência individual e apartada das questões propriamente escolares. De um lado, a palavra utilizada é "atendimento", termo este já tradicionalmente relacionado a um modelo médico; por outro lado, e corroborando essa interpretação, o "psicológico" é acompanhado de "médico", "odontológico" e, na esteira da própria concepção de psicologia aí expressa, de "fonoaudiológico". Dada nossa concepção de Psicologia Escolar e Educacional, pode-se dizer que a psicologia a que a lei se refere não é esta que defendemos.

Essa análise demonstra que se essa atuação da psicologia não é reconhecida pela LDB como ação própria da educação, do que não discordamos, há por outro lado, uma atuação que pode ser considerada como de caráter eminentemente educacional e que tem sua prática pautada na instituição escolar e nas demandas a ela inerentes.

Com base nessa consideração, impõe-se uma discussão a respeito dessa questão, que deve subsidiar o esclarecimento aos órgãos direta e indiretamente relacionados a essa prescrição legal, além de um encaminhamento mais direto, com vistas à defesa da inserção de uma determinada prática que pode contribuir com a melhoria da educação brasileira, não como reivindicação motivada por interesses corporativistas, mas como concretização de uma luta cujo motivo primeiro é seu compromisso radical com a educação das classes populares.

A derradeira questão é de natureza ética e, sob um determinado foco, pode ser exemplificada pelo problema acima discutido. Devemos invariavelmente pautar toda e qualquer discussão sobre a Psicologia em geral e sobre a Psicologia Escolar e Educacional em especial sobre a questão ética, entendendo-a não como prescrição de normas, nem como tema da moda, mas como ética social, que se questiona e que se pergunta constantemente sobre o que fazemos, para quem, com que finalidade e a que interesses servimos.

Este é o ponto a partir do qual se deve retornar ao início dessa discussão. A história demonstra pactos entre psicologia, educação e sociedade que penderam para interesses contraditórios e opostos, na maioria das vezes em contraposição aos direitos das classes populares. Da compreensão desse processo, podemos nos lançar de maneira mais efetiva à construção de uma Psicologia Escolar e Educacional comprometida de fato com uma educação democrática, submetida aos interesses dessas classes. Este é, por sua vez, o compromisso que define e determina as perspectivas que estão postas para essa área de conhecimento e campo de atuação do psicólogo."