domingo, 27 de setembro de 2020

O Estudo das diferenças individuais no Brasil

  A psicologia brasileira na primeira metade do século passado; 

  •  buscava conhecer o sujeito bem, sobretudo do ponto de vista de sua capacidade física e mental e, mais ainda, de suas aptidões e tendências.
  • Havia uma contínua preocupação em conhecer a realidade psíquica do cidadão brasileiro a partir do seu perfil intelectual, motivacional e comportamental
  • foram produzidos numerosos estudos sobre inteligência, aptidão, prontidão, interesses e, em menor extensão, sobre personalidade.

A Psicologia na segunda metade do século passado:

  •  décadas de 1970 e 1980, as pesquisas sobre diferenças individuais sob a perspectiva fatorial reduziram-se drasticamente.
  • novos paradigmas de investigação ganharam destaque, especialmente o cognitivismo-construtivismo e o cognitivismo-processamento de informação.
  • 1990, ressurge o interesse na mensuração de fenômenos psicológicos.
  •  a Psicologia no Brasil, o início do terceiro milênio se caracteriza pelo esforço técnico-acadêmico de profissionais e pesquisadores em melhorar os instrumentos psicológicos já existentes.
  • Surgem novas informações sobre o desempenho mental de crianças, de adolescentes e de adultos brasileiros

1900 A 1960: INÍCIO E DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS

  • Brasil no início do século XX - assistia a passagem do capital  escravagista para o capital industrial.
  • o estudo psicológico do comportamento humano era efetuado por médicos, educadores, engenheiros e administradores do serviço público.
  • Na década de 1930, os médicos foram os primeiros a criar laboratórios experimentais de psicologia para o estudo do comportamento humano, principalmente da conduta anormal, com o auxílio de especialistas estrangeiros. 
  • Um dos poucos médicos que se aproximou do estudo das diferenças individuais foi o psiquiatra Ulisses Pernambuco que, em 1925, criou o Instituto de Seleção e Orientação Profissional de Pernambuco.
  • o governo estadual de Pernambuco passa a exigir dos candidatos ao exame de seleção da Escola Normal e similares uma certidão de idade mental
  • Em 1925, enquanto o Laboratório de Pizzoli se aprofundava no estudo da aprendizagem utilizando testes de nível mental, a direção da Escola Normal de São Paulo passa a fazer  avaliação da maturidade na leitura e na escrita.
  • Em 1931, Lourenço Filho iniciou o processo de padronização do Teste ABC com 15.605 crianças do Estado de São Paulo e, posteriormente, com 24.500 crianças do Estado do Rio de Janeiro.
  •  Ignorava-se na época, que as diferenças individuais em inteligência são mais acentuadas no estágio da compreensão da leitura (ler para aprender) do que na fase de decodificação (aprendendo a ler). 
  • 1920, na cidade de Belo Horizonte, o governo estadual contratou estrangeiros, principalmente suíços e franceses, para impulsionar a recém-criada Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico de Minas Gerais.
  • 1929, Antipoff iniciou uma série de investigações em crianças mineiras sobre desenvolvimento da inteligência, psicomotricidade, interesses e outros aspectos psicológicos.
O estudo das diferenças individuais alcançou seu ápice nos anos de 1930 graças aos trabalhos administrativos e acadêmicos em psicologia educacional de Lourenço Filho.

  • preocupação constante em aplicar princípios e métodos da mensuração psicológica ao sistema educacional brasileiro. 
  • 1930 e 1940, o cenário econômico do Brasil caracterizava-se pelo rápido crescimento industrial e, com ele, a necessidade de identificar pessoas aptas a assumirem postos de administração e do setor operário.
  • necessidade de implantar um sistema de avaliação psicológica no Estado de São Paulo provinha dos trabalhos das estradas de ferro, em que era necessário selecionar aprendizes, motoristas e despachantes. 
  •  1930, ocorrendo, a partir daí, um significativo aumento das avaliações psicológicas.
  •  1936 a 1940, ao criar-se o primeiro Gabinete de Psicotécnica da Escola Técnica Getúlio Vargas, a seleção de pessoal, inicialmente restrito à área industrial, estendeu-se também ao serviço público.
  •  1940 e 1945, com a crescente aceleração da industrialização do Estado de São Paulo, observou-se uma grande demanda para formação de especialistas sobre testes e medidas psicológicas, e criaram-se diversos cursos e centros que, de forma isolada, trabalhavam em objetivos estabelecidos pelas instituições requerentes. 
  • No período entre 1945 a 1950, iniciaram-se os concursos públicos, incorporando técnicas de avaliação psicológica e trabalhos de orientação profissional em escolas técnicas como o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial). 
  • Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, viu a necessidade de criar um instituto que cuidasse do fator humano no trabalho.
  • 1940 e 1960, uma fase de desenvolvimento e de aplicação de técnicas psicológicas, sendo considerada como referência exemplar na área da psicologia psicométrica (Sparta, 2003)
  • O postulado básico da orientação profissional era a identificação das diferenças individuais nas pessoas e nas ocupações. 

 Estudos sobre inteligência:

  • A mensuração da inteligência no Brasil, na primeira metade do século passado, acompanhava aquela praticada em países mais desenvolvidos, adaptando-as a realidade do país.
  • A pesquisa de Antipoff com o Desenho da Figura Humana aplicado a 500 crianças de 7 a 11 anos evidenciou um menor desempenho das crianças brasileiras com relação às crianças americanas.
  • s. O teste solicitava, entre outras coisas, cópia de figuras, reconhecimento de figuras, resolução de problemas e cálculo.
  • Segundo a  Teoria Desenvolvimental das Diferenças Cognitivas de Gênero existem taxas diferentes de amadurecimento físico e mental.
  • as diferenças intelectuais considerando a região geográfica também foram estudados por Ginsberg (1951), que analisou os dados de desempenho intelectual de 4.610 crianças de cinco Estados do Brasil. 
  • Os dados novamente apontavam uma relação entre o nível socioeconômico e o desempenho das crianças em testes de nível mental. 
  •  Em nível internacional, alguns estudos mostram que as diferenças cognitivas entre os sexos são reais (Lynn, 1999), porém,  há ainda um terceiro grupo de estudos que mostra que as diferenças estão estreitando-se com o passar do tempo (Feingold, 1988).
  • 1950, a força preditiva da inteligência no setor laboral foi prontamente investigada nas escolas técnicas
  •  teste das Matrizes Progressivas de Raven e as notas escolares não era o instrumento forte o suficiente  para prever o aproveitamento escolar.
  • 1953 a 1958 surge o  o teste INV, do psicólogo Pierre Weil, cujo manual alerta  para a simplicidade do tratamento estatístico em função do tempo disponível para a apresentação do relatório final pela comissão encarregada da análise quantitativa.
  • Estudos apontam que as diferenças regionais, a região Sul apresenta resultados médios mais elevados do que as regiões menos desenvolvidas
Estudos sobre personalidade

  • os estudos na área da personalidade estavam vinculados à área psiquiátrica.
  • a maioria das investigações sobre personalidade adotava ou a explicação biológica para os aspectos anormais, ou a explicação mais compreensiva, individual e clínica para os aspectos normais da personalidade.
  •  pouco se aplicavam os princípios de mensuração psicológica ao estudo da personalidade.
  •  A explicação predominante baseava-se em pressupostos psicodinâmicos.
  • final da década de 1940, a vinda do Prof. Mira y Lopez ao Brasil, e com ele a prova miocinética PMK, permitiu a investigação sistemática dos traços normais e anormais da personalidade.
  • 1950 e 1960 se caracterizam pela intensificação dos estudos da personalidade com base em resultados de testes chamados projetivos, como o Rorschach e o TAT e em menor proporção o Teste Zulliger.
  • Os estudos na área da personalidade geralmente eram feitos em pequenos grupos e sem preocupação com a questão da representatividade amostral. 
1970 – 1980: EMERGÊNCIA DE OUTROS PARADIGMAS DE INVESTIGAÇÃO

  • O brasil com população dobrada, e inúmeras diferenças regionais, sociais, econômicas e políticas.
  • Na mobilização por explicações acadêmicas para o fenômeno, abandonou-se a produção sobre diferenças individuais na perspectiva psicométrica e ganharam força outros paradigmas de investigação quais sejam, na área da inteligência, o sociocognitivismo, o cognitivismo-construtivismo e o processamento de informação. Queriam saber por que havia expressiva evasão escolar entre as crianças.
Estudos sobre inteligência

  • décadas de 1970 e 1980 caracterizam-se pelas frequentes discussões a respeito dos parcos resultados acadêmicos e cognitivos de indivíduos de baixo nível socioeconômico, principalmente de crianças escolares.
  • Muitos trabalhos foram publicados em resvistas de Psicologia.'
  • Poppovic inaugurou, no Brasil, o conceito de “marginalização cultural”, equivalente a “privação cultural”, “carência cultural”, “deficiência cultural”, termos que vigoravam na década de 1960 nos EUA para explicar as diferenças de desempenho cognitivo e acadêmico entre crianças de baixo e alto nível socioeconômico. 
  • As diferenças de desempenho cognitivo e escolar entre as crianças de classes econômicas alta e baixa apareciam em quase todos os estudos. 
  • Em 1970 a desnutrição passa a ser vista como uma das causas ambientais pelo fracasso cognitivo e escolar. Alimentação é determinante no nível de inteligência.
  •  A aplicação de um instrumento cognitivo, elaborado por Poppovic, mostrou diferenças significativas entre os grupos com relação a três das sete áreas contempladas pelo instrumento: funções psiconeurológicas, conceitos básicos e linguagem.
  • A polêmica acadêmica sobre déficit versus diferenças cognitivas das camadas de nível socioeconômico baixo era necessária para responder ao grave problema educacional da evasão e da repetência escolar.

Aplicaram os seguintes testes:

Teste do desenho da figura humana (teste de Goodenough)
  •  avalia a maturidade intelectual, nas suas funções  perceptivas, de abstração e generalização na criança e no adolescente de 03 à 15 anos de idade. 
  • Se caracteriza como um teste projetivo pois é através do desenho que a criança revelará características da sua personalidade, suas necessidades e emoções, mas também pode ter um propósito psicométrico já que ajuda na avaliação cognitiva dessa faixa etária. 
  • Observa-se variáveis como sexo, idade, cultua, nível social e escolar da criança.
  •  O teste avalia o desenvolvimento intelectual e o resultado varia conforme essa criança cresce.
  • É um teste não verbal, individual e de fácil aplicação, o qual as crianças se adéquam facilmente tendo a duração de aproximadamente 15 minutos. 
  • A tarefa da criança consiste na execução de três desenhos: um de si próprio, um de um homem e outro de uma mulher. 
  • O teste tem como material o manual técnico, a folha de registro e a prancha com exemplos de desenhos.

Matrizes Progressivas de Raven

  •  É um teste psicométrico que tem como objetivo principal medir o nível de inteligência, também conhecido como fator G. 
  • Esse exame foi desenvolvido por John C. Raven e administrado pela primeira vez em 1938. 
  • O teste psicológico se baseia em averiguar que elemento falta nas matrizes.
  • Os resultados do teste de Raven podem ser empregados para um exame psicotécnico, um teste psicológico ou para o processo de seleção de um empresa.
  • Possui uma ficha técnica para que você possa se preparar para realizar esse teste psicométrico.
Prova Psicomotora de Bender
  • O teste Bender é um instrumento psicotécnico de avaliação psicológica que se usa para avaliar o funcionamento visomotor e a percepção visual, tanto em crianças como em adultos.
  • O teste de Bender consiste na cópia de uma série de figuras e, por isso, requer habilidades motoras finas, a habilidade de discriminar entre estímulos visuais, a capacidade para integrar habilidades visuais com motoras e a habilidade de mudar a atenção do desenho original para a cópia.
  •  As pontuações do teste são usadas para identificar possíveis danos orgânicos cerebrais e o grau de maturação do sistema nervoso.
  • O objetivo desse teste é avaliar a maturidade visual, a integração visomotora, o estilo de resposta, a reação à frustração, a habilidade para corrigir erros, habilidades de planificação e organização, assim como a motivação.
Teste Diagnóstico das Habilidades do Pré-Escolar (DHP)
  • é utilizado para medir o domínio dos conceitos básicos que a criança possui para aprendizagem e aquisição da linguagem, fornecendo subsídios quanto à maturidade para acompanhar os conteúdos programáticos da escola tradicional (formal).
  • teve como base as teorias da estrutura mental das habilidades humanas de Thurstone e visa detectar as habilidades do pré-escolar no início do Ensino Fundamental
  • fornece um perfil da estrutura mental que a criança apresenta no momento em que se submete ao aprendizado sistemático escolar, concretizando informações sobre seu amadurecimento global.
  • detecta desempenhos em cinco habilidades:verbal, perceptivo-espacial e lateralização. Vocabulário aritmétrico, Habilidade de raciocínio (do tipo análise e síntese) e Habilidade viso-motora.
  • O teste nãoe cxige conhecimento de leitura. 
No período de 1970 a 1980, no que se refere ao estudo da inteligência, foi marcado pela mudança no paradigma de investigação:
  •  A mensuração, via testes de inteligência, foi substituída pela compreensão qualita A mensuração, via testes de inteligência, foi substituída pela compreensão qualitativa,  e em alguns casos intuitiva, de estágios ou etapas cognitivas.
  • Percebeu-se que, as diferenças no nível socioeconômico acompanham as diferenças no rendimento escolar e que  as diferenças de inteligência acompanham as diferenças de rendimento escolar.
  • a inteligência independentemente do nível socioeconômico correlaciona-se com o desempenho acadêmico duas vezes mais do que a variável social.
  • a década de 1970 caracterizava-se pela tendência de uso de testes, especialmente projetivos, no campo clínico (Curty-Rembowski, 1985)
Estudos sobre personalidade
  • 1970 e 1980, continuava-se a pesquisar a personalidade no campo clínico utilizando-se técnicas projetivas.
  • a representatividade do estudo da personalidade na produção acadêmica nacional, quer pela via metodológica objetivo-quantitativa ou pela perspectiva subjetivo-qualitativa, foi muito pequena.
DÉCADA DE 1990 E RESSURGIMENTO DA MENSURAÇÃO PSICOLÓGICA
  • 1990, observou-se um ressurgimento da atenção social e acadêmica para as medidas psicológicas, devido principalmente à antiguidade dos testes comercializados no país. 
  • diversos laboratórios de Avaliação Psicológica de universidades públicas e privadas surgiram em alguns Estados do País.
  • Surge o  Instituto Brasileiro de Avaliação e Pesquisa em Psicologia (IBAPP). O instituto teve o patrocínio do Conselho Federal de Psicologia e estabeleceu-se com um dos objetivos sendo o de verificar e fundamentar as bases técnico-científicas dos instrumentos psicológicos utilizados no país.
  • Havia uma falta de padronização, para o contexto nacional, de muitos instrumentos psicológicos existentes no mercado;  despreparo de profissionais em mensuração e avaliação psicológica; produção insuficiente de novos instrumentos psicológicos.
  • Conselho Federal de Psicologia (CFP), no início de 2002, forma uma Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica. A tarefa era fazer uma análise técnica de todos os instrumentos comercializados no país, melhorando os instrumentos.
  •  o esforço em aumentar a qualidade dos testes psicológicos no Brasil tem permitido produzir novas informações sobre a inteligência e a personalidade do cidadão brasileiro.
  • Com o avanço da psicometria e dos recursos tecnológicos de registro e análise de dados, é possível analisar e acompanhar os fenômenos atualmente discutidos no cenário internacional.

REFERÊNCIAS:

MENDOZA, Carmem E. Flores. Psicologia das Diferenças Individuais. Capítulo 2: O estudo das diferenças individuais no Brasil.

https://br.psicologia-online.com/teste-de-raven-o-que-e-e-como-interpretar-30.html

http://www.psicocepa.com.br/Testes/Teste%2036.htm#:~:text=O%20DHP%20teve%20como%20base,ao%20aprendizado%20sistem%C3%A1tico%20escolar%2C%20concretizando

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